Muro verde em SP será ‘pago’ com compensação ambiental de árvores cortadas
Para ambientalistas, uma árvore nunca poderia ser trocada por um jardim vertical.
Para ambientalistas, uma árvore nunca poderia ser trocada por um jardim vertical.
Para viabilizar a instalação do muro verde na Avenida 23 de Maio, na cidade de São Paulo, a gestão do prefeito João Doria (PSDB) decidiu usar uma compensação ambiental devida por uma empresa que cortou árvores para a construção de um condomínio residencial no Morumbi.
Segundo matéria do jornal O Estado de São Paulo, a empresa Tishman Speyer cortou 856 árvores para a construção de três torres de apartamentos de alto padrão. Como contrapartida, ainda na gestão do ex-prefeito Kassab (PSD), a empresa se comprometeu a fazer a compensação com um plantio de 26.281 mudas para a instalação de quatro parques lineares na zona sul da cidade, no valor total de R$ 13 milhões. Porém, durante a gestão de Fernando Haddad (PT), em 2015, este valor foi transferido para a construção de oito jardins verticais, e desses, apenas dois foram concluídos. (veja aqui)
Após a polêmica de cobrir os grafites da 23 de Maio de tinta cinza, a prefeitura decidiu utilizar o saldo existente para a construção de um muro verde com dez mil metros quadrados no corredor norte-sul de São Paulo, no valor de R$ 9,7 milhões. A primeira fase deve ser concluída no próximo mês.
O uso de jardins verticais nas cidades é bastante elogiado por biólogos e ambientalistas, porém, é considerado ineficiente quando usado como compensação de corte de árvores nativas e exóticas. “O muro verde é como um paciente na UTI. Ele custa muito caro, precisa de manutenção permanente e não sequestra carbono como as árvores. Nós estimamos que o serviço ambiental prestado por duas árvores corresponde a cerca de 1,5 mil metros quadrados de parede verde. A diferença é absurda”, afirmou ao Estadão o biólogo Marcos Buckeridge, pesquisador do Instituto de Biociências e do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo (USP). Fazendo o calculo correto, seriam necessários então 642 mil metros quadrados de muro verde, mas o que será instalado corresponde a apenas 0,23% deste valor.
Segundo Nik Sabey, ambientalista do coletivo Novas Árvores Por Aí, o plantio de paredes verdes é utilizado muitas vezes como ferramenta para greenwashing (estratégia de marketing sustentável enganosa). “Uma árvore nunca poderia ser trocada por um jardim vertical. Uma árvore dura centenas de anos e vive sem precisar de manutenção. Já um jardim vertical, lindo como são, se não forrem irrigados, morrem. Cortar uma árvore hoje é perder um patrimônio ambiental que precisa ser evitado ao máximo. Mesmo assim, se for necessário, precisa ser compensado de forma séria e duradoura”, afirma ao CicloVivo.
Já o atual secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Gilberto Natalini, relatou ao Estadão que recebeu da gestão anterior o termo de compromisso ambiental (TCA) que permitiu usar jardins verticais para compensar corte de árvores na cidade e que “melhorou” o acordo ao transferir o projeto de jardins de paredes privadas para um muro público. Ele ainda afirmou que criou um grupo de estudo para analisar alterações na lei de compensação, porém sem garantir a proibição da prática.
Redação CicloVivo