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Alunas do Ensino Fundamental desenvolvem composto orgânico que substitui agrotóxico

Produto foi premiado em feira científica da USP e pode ser a solução viável para plantações sustentáveis e produtivas

Published 23/04/2020
agrotóxicos

Em 2018, as estudantes paranaenses Sarah Bernard Guttman e Luiza Fontes Bonardi começaram a pesquisar um produto orgânico que fosse capaz de substituir os agrotóxicos. Ambas estavam no 9º ano do Ensino Fundamental do colégio Positivo, em Curitiba.

“Nossa motivação veio de um cartaz alertando para o fato do Brasil ser o país que mais consome agrotóxicos no mundo – como forma de combater insetos, pragas e doenças e garantir a produtividade na plantação. Na hora, veio a ideia de fazer algo para mudar isso”, recorda Sarah, hoje estudante do 2º ano do Ensino Médio.

Este ano, as duas foram premiadas na 18ª Febrace – Feira Brasileira de Ciências e Engenharia 2020, realizada de forma remota. As alunas, apresentaram o resultado da pesquisa de 2 anos: o projeto AgroAtóxico, que prevê a substituição de agrotóxicos por um composto orgânico. O trabalho premiado será publicado na revista científica InCiência.

A orientadora da pesquisa, a professora Suellyn Homan conta que houve uma série de estudos com plantas medicinais que desempenhassem o mesmo papel de proteção da plantação de um agrotóxico. “Para nossa surpresa, nos testes iniciais, o produto foi tão bom que estimulou o crescimento das plantas. Mas decidimos mudar a formulação, pois utilizamos própolis, um ingrediente que acabava encarecendo o produto”, revela.

Agricultura sustentável

O uso de defensivos agrícolas pode causar sérios danos ao meio ambiente, como contaminação do solo e dos recursos hídricos; e à saúde, como alterações cromossômicas, câncer de diversos tipos, doenças respiratórias, entre outras. Segundo Suellyn, o bem estar dos agricultores que têm contato direto com agrotóxicos também motivou as estudantes a seguirem com sua pesquisa.

Segundo Sarah, o AgroAtóxico consegue suprir o uso dos defensivos agrícolas em pequenas e médias propriedades, mas ainda falta testar em larga escala. “Com os resultados que temos hoje, indicamos para pequenas plantações e hortas caseiras”, detalha.

As estudantes Sarah Bernard Guttman e Luiza Fontes Bonardi. Foto: divulgação

Produção em larga escala

Com a premiação, o objetivo da equipe é testar em larga escala e patentear a fórmula para entregar a solução para cooperativas e agricultores familiares.

“Estudos já mostraram que, se não fizermos uma mudança na produção de orgânicos, é provável que todos os biomas, em especial o Cerrado, o mais explorado por conta da soja e do pasto, serão extintos em seis anos”, revela Sarah.

De acordo com a estudante, é importante pensar em soluções para a produção de orgânicos. “Ainda é um tabu, mas a produção de orgânicos em grandes propriedades não só é possível como é o futuro do abastecimento sustentável”. 

“Foi muito esforço colocado na pesquisa e até para chegar na Febrace, que é uma premiação nacional e envolve inúmeros projetos. E também ajudou a provar nossa capacidade como cientistas”, conclui Sarah.

Plantação de morango com o AgroAtóxico. Foto: divulgação

Valorizando a pesquisa científica

A Febrace é considerada um “vestibular das feiras científicas pré-universitárias”, segundo explica a coordenadora de Pesquisa Científica e Empreendedorismo do Colégio Positivo, Irinéia Inês Scota. Para a 18ª edição da feira, 66 mil estudantes desenvolveram trabalhos de pesquisa científica e tecnológica, que foram submetidos diretamente ou se destacaram em uma das 123 feiras regionais promovidas pelas instituições afiliadas.

Toda a crescente agenda de eventos valorizando a produção científica pré-universitária demonstra o impacto positivo de oportunizar o contato com a pesquisa aos estudantes desde os primeiros anos do ensino, a fim de criar um ambiente favorável à inovação.

“Quem participa e toma gosto pela pesquisa no Ensino Básico rompe os limites da sala de aula para interferir no mundo. Aprende muito cedo a lidar com dados, a trabalhar com metodologia, a analisar resultados e a persistir com o estudo quando algo dá errado até chegar a uma conclusão. Isso muda a mentalidade e faz toda diferença na vida”, defende a coordenadora.

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