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Leilão de arte quer captar R$ 1 milhão para brigadas anti-incêndios no Pantanal

Iniciativa do “Documenta Pantanal” vai reverter grana para investimento em equipamento, formação e manutenção de brigadas voluntárias por 3 anos.

Published 25/03/2021
brigadas anti-incêndios no Pantanal

Foto: Marina Klink

A destruição de grandes áreas do Pantanal por incêndios ganhou cobertura da mídia nacional e internacional. 2020 foi um ano especialmente trágico para a região, que sofreu com mais de 30% de seu território sendo completa ou parcialmente destruído pelas chamas. Graças a um conjunto de ações oficiais e voluntárias a expansão do fogo foi controlada, mas, para além dos estragos no bioma – muitos deles com prazos indeterminados para recuperação –, o risco de novas crises são ameaças constantes a moradores, fauna e flora. Por conta disso, um grupo está buscando fortalecer brigadas anti-incêndios.

Utilizando-se da ação contínua da iniciativa Documenta Pantanal, que atua em documentação, desenvolvimento e preservação do ecossistema por meio de diferentes ações, um grupo de mulheres sensíveis à causa e reconhecidas em seus respectivos nichos de atuação e, particularmente, no mercado das artes plásticas, concebeu o projeto de se promover um leilão com obras de arte expressivas (em diversas linguagens) de artistas contemporâneos renomados e atuantes. A meta é captar R$ 1 milhão, que será utilizado em brigadas rurais anti-incêndio. 

Unidas por esse desafio, Fernanda Feitosa, Mari Stockler, Mônica Guimarães, Paula Azevedo, Susana Steinbruch, Teresa Bracher e Monica Tinoco vêm trabalhando na captação de doações de obras, junto a artistas e colecionadores, que serão oferecidas a lance pelo leiloeiro Aloísio Cravo na plataforma Arremate.

Da coleta ao leilão   

Segundo o cronograma, o processo de coleta das obras irá até 31 de março. Depois disso será produzido um catálogo, que será lançado virtualmente em 1º de maio. Com a meta de atingir o valor estimado, o leilão irá ocorrer em 26/5, às 20h. O montante arrecadado permitirá ao SOS Pantanal investir em equipamento, formação e manutenção de brigadas voluntárias anti-incêndios na região pelo período de três anos. Nesse sentido, a instituição está articulando a conexão de uma rede de brigadas rurais voluntárias que já atuam em diferentes localidades do bioma (3 em Poconé, 2 em Corumbá, 2 em Barão de Melgaço, 2 na Chapada dos Guimarães e 1 em Santo Antonio de Leverger), compondo a Brigadas Pantaneiras. Além desses dez grupos (cada um deles com uma média de 12 pessoas), o SOS Pantanal ainda irá apoiar outras duas equipes, uma em Miranda e outra em Aquidauana.

Brigadas anti-incêndios em 2020

De acordo com o diretor de Relações Institucionais do SOS Pantanal, Leonardo Pereira Gomes, estas equipes encontram-se em áreas que apresentam um risco elevado de queimadas tendo em vista os dados dos últimos 30 anos. “Vamos profissionalizar e equipar essas brigadas por meio de um programa de suporte. Haverá planejamento e treinamento na prevenção e no combate ao fogo. O papel dos brigadistas é prevenir e, em caso de um início de um foco de queimada, efetuar o primeiro combate, que é o mais efetivo e menos custoso”, explica.

Queimadas no Pantanal / Foto: Ernane Jr.

Para Gomes, a situação de 2020 comprovou que as brigadas são uma estratégia de suma relevância. “Vimos, no campo, a importância e o engajamento desses grupos em uma ação articulada com o Corpo de Bombeiros, o Ibama – Prevfogo e demais organizações. Com a seca que se intensifica no bioma será cada vez mais relevante termos pessoas bem treinadas, equipadas, assessoradas e com um bom planejamento para agir em seus territórios. Precisamos aumentar a capacidade e a velocidade na resposta, além de facilitar a atuação do Poder Público nos locais mais suscetíveis a incêndios florestais”, acredita. 

Arte e meio ambiente

Para Teresa Bracher, idealizadora e uma das organizadoras do Documenta Pantanal, a concepção e a promoção do leilão revestem-se de grande relevância porque, além de gerar recursos para a prevenção e controle dos incêndios, divulga as belezas e as ameaças pantaneiras. Conhecedora da região há muitas décadas, ela complementa: “Os brasileiros precisam prestar atenção ao Pantanal. Sem este conhecimento não virá a consciência e o desejo de preservá-lo e protegê-lo”. Complementarmente, Mari Stockler afirma: “Esta é uma iniciativa da sociedade civil brasileira para a proteção de um bioma extremamente importante. Esta proteção não está sendo feita pelo Poder Público e, por esta razão, a sociedade está se mobilizando”.

Em relação à adesão de artistas, Teresa afirma que esse projeto deixa muito claro como as pessoas foram impactadas pelos incêndios do ano passado. “Estamos tendo um retorno incrível dos artistas. A imensa maioria das pessoas que contatamos quer participar, pois viram a dimensão da tragédia de 2020, fato que está sensibilizando muitas pessoas. Nós, brasileiros, temos que nos unir para proteger nosso patrimônio natural, que é nosso bem maior, nossa casa”, diz. 

Já para a coordenadora do Documenta Pantanal, a produtora Mônica Guimarães, os artistas são, por natureza, pessoas antenadas na realidade. “As cabeças voam e criam, mas a percepção do real sempre os acompanha e isso é a beleza do ser artista – essa dualidade. Todos estavam a par dos acontecimentos no Pantanal e suas respostas foram imediatas e muito positivas”, avalia. 

Entre os que já doaram trabalhos para o leilão – como Leda Catunda, Jac Leirner e Daniel Senise –, o artista plástico Alex Ceverny, que doou a tela “José interpretando os sonhos do faraó”, conta que poder contribuir para conter a degradação das conquistas ambientais que surgiram após a ECO 92 foi um fator que determinou sua doação, dizendo-se confiante na seriedade das instituições envolvidas na tomada de ações urgentes em prol do bioma. Por sua vez, Santídio Pereira, que doou uma gravura em que retrata a macambira (planta encontrada na Caatinga e no Pantanal), afirma que sua maior motivação para se engajar é o carinho que nutre pela natureza e a crença de que essa iniciativa irá contribuir para ajudar a preservar o ecossistema.

Foto: Marina Klink

Por falar em flora, este projeto ainda inclui uma outra ação. Após a finalização do catálogo, os alunos da escola Jatobazinho, mantida pelo Acaia Pantanal em Corumbá, vão fazer um trabalho de pesquisa sobre os artistas e suas obras. Além disso, os doadores serão homenageados, cada um deles, com uma bocaiúva, palmeira-símbolo do Pantanal da qual tudo se utiliza e que será plantada no terreno da escola, formando um bocaiuval. Para finalizar, entre outubro e novembro será descerrada uma placa no jardim sobre esse projeto de educação artística e ambiental. 

Conheça mais a iniciativa Documenta Pantanal.

Leia também: Ambientalistas unem esforços para criar brigada anti-incêndio no Alto Pantanal

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