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Cervejaria “enterrada” reduz 15°C com ventilação natural, árvores e pedras

Companhia conseguiu criar um microclima agradável em uma região extremamente quente e pouco ventilada

Published 23/07/2019

A Cervejaria Colorado inaugurou, em sua cidade natal, Ribeirão Preto (SP), a Toca do Urso – um espaço que simula uma caverna para receber visitantes. Com projeto do SuperLimão Studio, o grande diferencial deste projeto está na utilização de diversas técnicas vernaculares e passivas para se criar um microclima agradável em uma região extremamente quente e pouco ventilada, sem enclausurar o ambiente e sem depender de técnicas ativas de condicionamento.

Situado em frente à fabrica da Cervejaria, o antigo estacionamento saiu para dar lugar à Toca do Urso. Buscou-se aproveitar o que já existia no entorno, como a copa de duas grandes árvores que sombream a área boa parte do dia. O grande salão circular foi enterrado 1,5m e a terra retirada do solo foi realocada criando um talude de 3m ao redor do salão central, criando uma grande barreira de inércia térmica como nas cavernas. A cobertura circular em formato de asa com clarabóia otimiza a circulação natural e capta vento em qualquer direção, como captadores de vento comuns em construções islâmicas.

No centro do salão foi construído um espelho d´água e um conjunto de canais. Todo o retorno da ventilação e ar condicionado acontece por grelhas no piso que ligam estes canais de forma que o ar é renovado e umidificado, diminuindo a temperatura naturalmente como nos antigos castelos medievais. A somatória destas medidas ajudou a reduzir a temperatura interna em cerca de 15 graus em relação à área externa, sem a necessidade de uso de ar-condicionado (que existe no projeto, mas é utilizado apenas em casos extremos de calor). Além disso, foram plantadas árvores nativas no entorno com o propósito de diminuir a temperatura ao redor do projeto e reduzir a bolha de calor.

Espaço aberto

O formato circular do salão da Toca do Urso é constituído de paredes de gabião, que possuem ótima absorção e garantem conforto térmico dentro do salão, mesmo quando lotado, com mais de 150 pessoas. Além disso, o ângulo da cobertura ajuda a refletir o som e direcioná-lo para a área externa – como uma placa de rebatimento – o que não só reduz o ruído interno, mas distribui de forma uniforme o som das bandas que se apresentam. Semi-enterrado e rodeado de vegetação, o formato também ajuda a bloquear o ruído da rodovia que está próxima à entrada da fábrica.

O projeto não possui fechamentos, de forma que é sempre possível visualizar o jardim e o céu de qualquer ponto do espaço. O balanço entre luz natural e artificial se dá através de clarabóias e bandejas de luz. Há um alto índice de iluminação natural e, ao mesmo tempo, um bloqueio de radiação que ajuda a diminuir a temperatura interna.

O ambiente é aberto, de forma que o ar é renovado através de ventilação cruzada ou convecção. Um espelho d´água e dutos subterrâneos alagados ajudam a umidificar, filtrar o ar e reduzir a temperatura. Amplo e livre de paredes, exceto na região dos banheiros e cozinha, o projeto pode ser utilizado de inúmeras formas –, a infra-estrutura foi prevista no jardim para futuros usos ou expansões.

Além dos recursos bioclimáticos já descritos, do ponto de vista estrutural a Toca do Urso se destaca em sua forma. Por ser circular, permitiu que a terra do talude fosse suportada através do uso conjunto de aduelas de concreto pré-fabricadas (normalmente utilizadas para canalização de corrégos) e muros de gabião, substituindo grandes estruturas e valorizando técnicas de baixo custo que evitam desperdício e valorizam a mão-de-obra e matéria prima local.

A cobertura leve de telhas sanduíches com PU permitiram uma estrutura leve feita com vigas de lâminas coladas, que ajudou a diminuir a profundidade das fundações. Os anexos foram construídos através da reutilização de containers e até mesmo de um ônibus municipal que circulava na região.

Como um todo, o projeto buscou criar um ambiente que otimizasse os recursos naturais (ventilação natural, bandeja de luz, captadores de vento, umidificação natural, captação e reuso de água, pisos permeáveis) e também o combate ao desperdício e reaproveitamento de materiais. As paredes de tijolos foram assentadas utilizando uma parte da areia inerente do processo de filtragem da cerveja. Diversos itens foram reaproveitados, como os barris que são os “dutos” de ar-condicionado do salão, não apenas pela estética, mas pela grande capacidade de carga de sua forma, o que permitiu abrir um furo no gabião sem desestabilizá-lo.

A maior parte dos materiais foram adquiridos num raio de, no máximo, 20km da obra. O jardim é constituído por espécies nativas, boa parte frutíferas e que serão utilizadas na fabricação das cervejas. Destaque para a área kids, formada por uma horta em formato de labirinto onde os
pequenos brincam e aprendem em contato com a natureza.

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