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Projeto de estufas urbanas pretende revolucionar a produção de alimentos

Ideia desenvolvida por equipe de estudantes da USP foi premiada em desafio internacional.

Projeto Cora
Imagem: Reprodução | Projeto Cora

Você sabe o que é uma estufa urbana? Ela é como as estufas tradicionais, um espaço artificial feito para o cultivo, porém em uma construção vertical adaptada para grandes metrópoles. Por aliar sustentabilidade e tecnologia, especialistas acreditam que as estufas verticais podem revolucionar a produção de alimentos. Com a demanda de produção em larga escala para uma população cada vez maior, elas evitariam impactos ambientais nas áreas rurais, como a perda de biomas, e poderiam realizar todo o processo nas próprias cidades, barateando custos, diminuindo perdas e envolvendo os cidadãos, o que incentivaria hábitos de vida saudáveis e sustentáveis.

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É nesse contexto que foi desenvolvido o Cora, projeto criado por alunos da USP que foi premiado na categoria Health & Lifestyle no BRICS Award, um desafio de ideias para promoção da qualidade de vida das pessoas e do intercâmbio de soluções entre os países que compõem o bloco das nações emergentes: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. 

O Cora agrupa diversas atividades da cadeia produtiva dos alimentos em um único espaço, englobando o cultivo, a venda in natura dos alimentos e a comercialização de refeições. Além disso, abrange o descarte dos resíduos orgânicos, que podem ser utilizados no sistema de cultivo, como a composteira que gera o adubo e o biodigestor, que produz parte da energia utilizada pelo empreendimento arquitetônico. E como esse tipo de projeto requer conhecimentos de várias áreas, foi necessário formar uma equipe multidisciplinar, com nove estudantes vindos de dois cursos diferentes: Engenharia Agronômica, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) de Piracicaba, e Arquitetura, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo (IAU) de São Carlos.

Inovação e sustentabilidade

O projeto Cora agrupa várias atividades que envolvem urbanismo, circularidade e sustentabilidade:

A estufa urbana reduz a emissão de gás carbônico, pois encurta o trajeto do transporte dos alimentos, otimiza o uso dos espaços restritos de regiões densamente urbanizadas e aproxima a produção dos alimentos das pessoas.

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Aliando tecnologia e sustentabilidade, o edifício permite o cultivo sem a utilização do solo e torna facultativo o uso de luz natural, que aumenta a produtividade, enquanto o consumo de água para o plantio pode ser reduzido em até 95% se comparado ao sistema convencional.

O projeto também prevê locais destinados às atividades físicas, meditação e yoga, anfiteatro e co-working para startups que atuem no crescimento econômico sustentável.

Para aproximar a população do espaço, a equipe projetou no térreo o CoraMarket, destinado à comercialização dos alimentos produzidos, o Cora2Go no segundo piso, local em que são montadas refeições prontas sob encomenda, o CoraCoffee, uma cafeteria situada no segundo andar, e um restaurante, que fica no oitavo piso.

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Um projeto mais ousado

O projeto Cora surgiu da ideia dos estudantes participarem do desafio internacional de estufas urbanas Urban Greenhouse Challenge de 2019, onde acabaram se classificando entre os seis melhores colocados, considerando competidores de 79 universidades de diversos países, como Espanha, França, Holanda, Israel e Coreia do Sul. Nessa proposta inicial, a tarefa consistiu na construção de uma estufa urbana para a cidade de Dongguan, uma das maiores áreas urbanas do mundo, localizada no centro de inovação da China. O trabalho partiu de estudos sobre a cidade, como características arquitetônicas, culturais e estrutura econômica do município chinês.

“O desafio propunha explorar o potencial da agricultura urbana de forma circular e sustentável envolvendo conhecimentos multidisciplinares. A estufa deveria ser icônica, produzir alimentos seguros e saudáveis para a vizinhança local e estimular um estilo de vida saudável e interações entre os cidadãos”, explica a integrante da equipe Natália Jacomino, estudante de Arquitetura e Urbanismo no IAU.  Ainda de acordo com ela, o desafio do grupo não era apenas no desenvolvimento de um espaço voltado à produção, mas também um edifício tecnológico, sustentável e que tivesse áreas destinadas ao uso social, educacional e recreativo.

No decorrer dos estudos, o projeto sofreu adaptações. Inicialmente, o prédio tinha quatro pisos. “A nossa intenção principal era criar um monumento dentro do parque, mas não um marco na paisagem da cidade de Dongguan”, conta Juliana Santos, recém-formada arquitetura pelo IAU. “Quando recebemos o feedback dos jurados, que apontaram que nosso edifício era modesto em comparação aos outros, isso foi o norteador para nós. Optamos por dobrar o número de pavimentos e mudar completamente a materialidade do edifício para madeira, aumentando a quantidade de alimentos produzidos”, completa.

Integrantes da equipe do projeto Cora

Em janeiro de 2020, a equipe era a única representante brasileira entre os semifinalistas. Logo depois, a pouco mais de mil quilômetros de Dongguan, surgiu na província chinesa de Hubei o vírus que deixaria o mundo paralisado. Como o concurso previa uma viagem para a cidade chinesa, para que as equipes conhecessem e observassem a região e suas características, o plano foi cancelado com a pandemia. “Acredito que a pandemia tenha sido um dos nossos maiores desafios. Tivemos que desenvolver trabalhos que nunca havíamos tido contato. E mesmo os que já conhecíamos, tivemos que aprender a fazê-los a distância”, conclui Natália, considerando as atividades remotas e adaptações do projeto durante o ano de 2020.