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Risco de rompimento de barragem coloca Minas Gerais em alerta

Sucessão de tragédias marca últimos dias no estado.

Published 10/01/2022
barragens em Minas

Foto: Prefeitura de Pará de Minas

Inundações, desabamentos e risco de rompimento de barragens. A população de Minas Gerais vive o pânico de não saber qual será a próxima tragédia. No último sábado (8), o estado teve destaque não só pela queda do paredão em Capitólio, que levou 10 pessoas a óbito, como também pelo transbordamento de um dique em Nova Lima do grupo francês Vallourec. A semana inicia com a ameaça de rompimento de uma barragem de água em Pará de Minas. 

Inicialmente, o Corpo de Bombeiros de Minas Gerais confirmou o rompimento da barragem Santa Bárbara, na Mina de Pau Branco, no município de Nova Lima. Porém, em menos de duas horas, a corporação voltou atrás e explicou que ocorreu um transbordamento no sistema de drenagem da estrutura. 

“O que aconteceu é que a região foi afetada por uma forte chuva, onde há uma estrutura que, de forma leiga, a gente pode definir como de contenção de águas de chuvas, é um dique. Ele fica próximo ao Miguelão, da estrutura do Alphaville. Para padrões de barragens, é considerada pequena. Em decorrência da quantidade de água, houve o transbordamento, e essa água acabou atingindo a região da BR-040”, explicou o porta-voz do Corpo de Bombeiros, o tenente Pedro Aihara.

O que se viu nas redes sociais foram imagens da BR-040 tomada por lama. A rodovia, que interliga Minas Gerais ao Rio de Janeiro e a Brasília, chegou a ser interditada, mas já foi liberada nesta manhã de segunda-feira (10). Moradores da região foram evacuados, assim como 400 animais silvestres tiveram de ser retirados de um Centro de Reabilitação próximo à rodovia. 

A noite do domingo (9) terminou com novo alerta no estado, ainda mais preocupante. A Prefeitura de Pará de Minas e a Defesa Civil alertaram para o alto risco de rompimento da barragem hidrelétrica da Usina do Carioca. A recomendação era que os moradores da cidade e de municípios vizinhos deixassem suas casas. O alerta foi sobretudo para Pitangui, Onça de Pitangui, São João de Cima, Casquilho de Baixo, Casquilho de Cima e Conceição do Pará.

Foto: Prefeitura de Pará de Minas

Viralizou nas redes sociais um vídeo que mostra um bombeiro afirmando que há “99% de [chances de] a barragem se romper” e que era para todos “sumirem dali”.

Rapidamente, começaram a circular notícias falsas de que a barragem já teria se rompido. Foi preciso a Defesa Civil de Minas Gerais, representada pelo subtenente Rodrigo Oliveira, gravar um vídeo oficial para esclarecer a situação. Em tom sóbrio, Oliveira (em companhia de um representante da Polícia Militar e de outro da Corpo de Bombeiros) afirma que a barragem está sendo monitorada pelos órgãos competentes. A barragem em questão é de responsabilidade da empresa Santanense, que, segundo a prefeitura de Pará de Minas, apresentou ao Corpo de Bombeiros um mapa com a mancha de inundação em caso de rompimento.  

“Partindo da análise do mapa, as famílias sob risco foram retiradas, restando apenas duas que não puderam sair durante a madrugada por estarem ilhadas”, afirmou o prefeito Elias Diniz em coletiva de imprensa nesta manhã. Em entrevista a um programa de TV local, o prefeito chegou a afirmar que uma destas famílias haviam sido avisadas previamente, mas não acreditaram. Quando a água subiu, não foi mais possível fazer a remoção.

As fortes chuvas surpreenderam até mesmo a gestão.

“No sábado, tínhamos uma previsão de 70 mm de chuvas, mas tivemos o dobro. Isso atingiu não só o perímetro urbano, mas também os distritos e povoados”.

Elias Diniz, prefeito de Pará de Minas

O distrito de Carioca, onde está localizada a usina hidrelétrica, foi um dos locais mais afetados. Com o aumento do volume de água, houve um transbordamento da represa e uma erosão na lateral. Já o duto principal fraturou.

Só nesta tarde, duas UBS foram interditadas na cidade. Já a empresa Águas de Pará de Minas, responsável pelo serviço de tratamento de água e esgotamento sanitário, comunicou em nota que o abastecimento da cidade poderá ser prejudicado.

A cidade criou pontos de apoio para receber desabrigados no posto de saúde local e no salão da Igreja Nossa Senhora da Piedade.

O tempo segue encoberto e com chuva, a qualquer hora, em praticamente todo o estado. De acordo com o SIMGE (Sistema de Meteorologia e Recursos Hídricos de Minas Gerais), há alerta de tempestade com vendaval e chuva forte, nesta tarde, nas cidades de Belo Horizonte, Belo Vale, Betim, Bonfim, Brumadinho, Contagem, Desterro de Entre Rios, Esmeraldas, Ibirité, Igarapé, Juatuba, Mário Campos, Moeda, Nova Lima, Piedade dos Gerais, Raposos, Ribeirão das Neves, Rio Manso, Sabará, Santa Luzia, São Joaquim de Bicas, São José da Lapa, Sarzedo e Vespasiano.

Responsabilidade ambiental

O Tribunal de Justiça de Minas Gerais determinou a suspensão das atividades da Mina de Pau Branco, da empresa Vallourec, já no sábado. A mineradora deve apresentar à Justiça documentos que comprovem a estabilidade da estrutura. 

Nesta segunda (10), as mineradoras CSN, Vale e Usiminas anunciaram a suspensão temporária de suas operações em Minas Gerais. 

A situação de Minas reacende o debate sobre a necessidade de fiscalização e licenciamento adequado e responsável. O Observatório da Mineração – trabalho de jornalismo investigativo sobre o setor – acaba de publicar que a estrutura da Vallourec que cedeu foi alvo de uma reunião urgente em janeiro de 2021. A mineradora teve o pedido de ampliação da pilha de estéril Cachoeirinha da Mina Pau Branco atendida a despeito dos ambientalistas que alertaram sobre os riscos.

A Vallourec conseguiu o licenciamento na modalidade concomitante, com Licença Prévia, de Instalação e de Operação ao mesmo tempo. Confira a reportagem completa. Abaixo um vídeo sobre a situação da Mina Pau Branco. As imagens foram registradas por Bruno Costalonga Ferrete e cedidas com exclusividade ao Observatório da Mineração:

Outro debate que deve seguir as tragédias são as mudanças climáticas que levam a eventos cada vez mais extremos. A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil já havia divulgado que o número de pessoas desabrigadas em Minas Gerais já é mais de duas vezes superior ao total registrado em toda a estação chuvosa de 2020/2021. De 1º de outubro de 2021 até a última sexta-feira (7), 3.185 pessoas tiveram que deixar suas casas e ir para abrigos públicos. 

O período chuvoso também foi incomum nas cidades baianas, que contabilizam 26.607 desabrigados e 61.516 desalojados, segundo informações da Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec) divulgadas no último sábado. São Paulo também passa por recorde de baixa temperatura para janeiro em 4 anos. 

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