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Estudo usa zebrafish para avaliar qualidade da água no Cerrado

Pesquisa pioneira é realizada no “berço das águas”.

Published 27/11/2020
zebrafish

Foto: Petr Kuznetsov | Pixabay

Uma iniciativa pioneira está coletando informações relevantes para a biodiversidade, monitoramento ambiental e o uso sustentável das águas. Trata-se do estudo científico de biomonitoramento que utiliza o peixe zebrafish (Danio rerio) – também conhecido como paulistinha – para avaliar a qualidade da água e sedimento dos rios no Cerrado. 

A escolha desse animal vertebrado se dá porque o DNA dos peixes é parecido com o dos seres humanos, de forma que, ao analisar o impacto da qualidade da água no organismo dos peixes, é possível associar esses efeitos ao corpo humano.

Realizado no Legado Verdes do Cerrado, uma Reserva Particular de Desenvolvimento Sustentável de propriedade da CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), o estudo é coordenado pelo professor Doutor Thiago Lopes Rocha, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG).

“Esses animais possuem genoma sequenciado com aproximadamente 70% de similaridade com o genoma do ser humano. Portanto, são utilizados como sistema-modelo para análise dos efeitos de poluentes das amostras ambientais em seu organismo. As respostas que obtemos podem ser associadas ao homem no estudo de doenças como câncer, alterações do comportamento, disfunções endócrinas e desordens neurológicas”, explica o professor.

O projeto está sendo realizado no Rio Traíras, que é manancial de captação para abastecimento público dos 46 mil habitantes da cidade de Niquelândia, no Norte de Goiás. Está localizado no trecho superior da bacia do Rio Tocantins e é um dos afluentes pela margem direita do Rio Maranhão. Juntamente com o Rio das Almas, formam o Reservatório da Usina Hidroelétrica (UHE) de Serra da Mesa, o maior do Brasil em volume de água, com 54,4 bilhões de m³.

Como destaca o coordenador do estudo, apesar de ser conduzido em uma localidade específica, o conhecimento obtido com a pesquisa extrapola o estado de Goiás. “Programas de biomonitoramento de recursos hídricos regionais contribuem para o conhecimento e a gestão da qualidade das águas de grande parte do Brasil”, explica.

Segundo ele, os resultados parciais da pesquisa indicam boa qualidade da água no Rio Traíras e baixa toxicidade para os embriões e larvas do zebrafish, destacando a importância da Reserva na conservação dos recursos hídricos.

Berço das águas

Com localização geográfica, relevo e altitude estratégicos, o Cerrado desempenha papel fundamental no abastecimento de água do país. As águas das mais de 20 mil nascentes desse bioma são escoadas para outras regiões, alimentando oito das 12 bacias hidrográficas do Brasil e auxiliando na distribuição dos recursos hídricos pelo território brasileiro.

Não à toa, o bioma é considerado o berço das águas. Cuidar do Cerrado é fundamental para toda a população brasileira, que depende do abastecimento hídrico para agricultura, indústria e atividades cotidianas. 

Pesquisa com zebrafish

O projeto “BioLeVe: Biomonitoramento do ecossistema aquático da Reserva Legado Verdes do Cerrado através de abordagem integrada com o sistema-modelo zebrafish (Danio rerio)” é realizado em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

No Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP – UFG), em Goiânia, os pesquisadores fazem os testes de toxicidade com as amostras coletadas utilizando embriões e larvas do zebrafish. A reprodução dos peixes e obtenção dos embriões viáveis são feitas no Instituto. Ao longo do desenvolvimento dos peixes, os cientistas identificam e quantificam possíveis alterações nas células e tecidos do animal, causadas pela exposição do zebrafish às amostras de água. Essas alterações dão indicativos de doenças e alterações que podem vir a acometer também os seres humanos que tenham contato com a água daquele rio.

Já foram realizadas três campanhas de coleta das amostras no Legado Verdes do Cerrado: duas no período seco (julho/2019 e outubro/2019) e uma no período chuvoso (janeiro/2020). Dessa forma, os pesquisadores esperam obter dados das variações anuais dos parâmetros físicos e químicos da água e dos sedimentos. A quarta e última coleta precisou ser adiada devido à pandemia da Covid-19 e será realizada na medida em que as atividades sejam seguras para a saúde de todos os envolvidos.

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