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Com manejo sustentável, indígenas mantêm 114 milhões de árvores em pé

Manejo sustentável de produtos da sociobiodiversidade fortalecem a proteção de 6 terras indígenas na Amazônia

Published 23/03/2022
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Foto: Raízes do Purus

Em 2021, a ONU reconheceu os povos indígenas como os melhores guardiões das florestas. E um estudo divulgado nesta semana comprova isso: por meio de iniciativas de manejo sustentável de produtos da sociobiodiversidade, os povos indígenas Apurinã, Paumari, Jamamadi e Deni, que vivem em 6 terras indígenas no sul e sudoeste do Amazonas, contribuíram, em 2021, para a conservação de um estoque de carbono equivalente a 114 milhões de árvores em pé.

É o que mostra o relatório de quantificação de carbono das atividades do projeto Raízes do Purus, que apoia o manejo sustentável de pirarucu, castanha, copaíba e açaí, e implementação de Sistemas Agroflorestais nestes territórios. O estudo analisou 246 mil hectares de florestas onde ocorrem as atividades de manejo apoiadas pelo Raízes do Purus.

Foto: Raízes do Purus

O documento, elaborado com o objetivo de avaliar as emissões e remoções de gases de efeito estufa (GEE) promovidas pelo projeto durante o ano passado, comprova a eficácia destas iniciativas para a proteção de terras indígenas, e para a mitigação da mudança climática.

Estudos científicos desenvolvidos por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) mostram que, em média, uma floresta madura de terra firme, captura algo em torno de 500 quilos a 1 tonelada de carbono por hectare.

“A ideia foi quantificar as emissões de gases efeito estufa que foram evitadas pelas ações de conservação do projeto, desenvolvidas por meio de vigilância, monitoramento territorial e proteção de ambientes aquáticos que são manejados. Esse conjunto de formação subsidia a avaliação de como está a saúde da região e da floresta e o quanto essas atividades contribuem para o benefício do clima”, afirma o autor do relatório e especialista em clima e ambiente, Rogério Ribeiro Marinho, da Universidade Federal do Amazonas. 

O relatório estima, ainda, que durante os quatro anos em que o projeto será executado, entre 2021 e 2024, sejam removidos da atmosfera mais de 1 milhão de toneladas de dióxido de carbono equivalente (CO2e). O projeto contribui de forma direta e indireta na conservação de mais de 2,3 milhões de hectares de floresta amazônica.

Foto: Rodrigo Kugnharski | Unsplash

Os valores utilizados como referência para o relatório de quantificação de carbono do Raízes do Purus foram baseados em dados georreferenciados (imagens de satélite e mapas temáticos), séries estatísticas e informações de literatura científica, seguindo as recomendações do Guia de Quantificação de Carbono de Projetos Socioambientais e as definições do Padrão VCS/VERRA (verified carbon standard).

Manejo sustentável e estoque do carbono

O manejo sustentável de produtos da sociobiodiversidade tem se mostrado um excelente aliado da conservação das terras indígenas. Isso porque toda a iniciativa deste tipo depende, em primeiro lugar, da organização coletiva das comunidades para vigiar seus territórios.

“O manejo possibilitou que os povos indígenas envolvidos no projeto retomassem o controle sobre suas terras, impedindo atividades predatórias e expulsando invasores, com a vigilância feita pelas próprias comunidades”, explica Leonardo Kurihara, coordenador do Raízes do Purus.

Foto: Raízes do Purus

Com sistemas de vigilância comunitários bem estruturados e comunidades engajadas na proteção dos territórios, os povos indígenas apoiados estão conseguindo evitar o desmatamento dentro das terras indígenas, que se tornam grandes reservas de carbono, e contribuem de forma importante para reduzir os impactos da mudança climática.

Entre os anos de 2015 e 2020, a taxa de desmatamento na região do entorno destas terras indígenas foi de 502 hectares por ano, resultando em um volume médio de 235 mil toneladas de carbono emitidos para a atmosfera por ano.

O projeto desenvolve, junto com as comunidades, ações para garantir que as populações das terras indígenas tenham condições de manter a floresta em pé. “O desmatamento e as queimadas são as principais formas de agravar o aquecimento global e os efeitos dos gases de efeito estufa na atmosfera. As florestas costumam ser desmatadas com fogo, o que libera grandes quantidades de gás carbônico e reduz o número de árvores disponíveis para absorvê-lo por meio da fotossíntese”, alerta Gustavo Silveira, coordenador técnico da OPAN.

“Então, quanto maior o número de árvores saudáveis em pé, maior será a quantidade de carbono armazenado na floresta e a sua capacidade de absorver o carbono da atmosfera. A coleta de castanha, o manejo do pirarucu, as atividades produtivas de maneira sustentável, todas elas dependem da floresta viva”, completa Gustavo.

Foto: Reprodução | “Bioeconomia da sociobiodiversidade no estado do Pará”

Raízes do Purus

O projeto Raízes do Purus é uma iniciativa da OPAN, com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, que visa a contribuir para a conservação da biodiversidade no sudoeste e sul do Amazonas, fortalecendo iniciativas de gestão e o uso sustentável dos recursos naturais das terras indígenas Jarawara/Jamamadi/Kanamanti, Caititu, Paumari do Lago Manissuã, Paumari do Lago Paricá, Paumari do Cuniuá e Banawa, na bacia do rio Purus, e Deni e Kanamari, no rio Juruá.

Para mais informações, acesse www.raizesdopurus.com.br.

Operação Amazônia Nativa

A OPAN – Operação Amazônia Nativa foi a primeira organização indigenista fundada no Brasil, em 1969. Nos últimos anos, suas equipes vêm trabalhando em parceria com povos indígenas no Amazonas e em Mato Grosso, desenvolvendo ações voltadas para a garantia dos direitos dos povos, gestão territorial e busca de alternativas de geração de renda baseadas na conservação ambiental e no fortalecimento das culturas indígenas.

Para mais informações, acesse amazonianativa.org.br.

Povos indígenas garantem a conservação do meio ambiente quando têm seus territórios respeitados. Foto: Marcelo Camargo | Agência Brasil

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