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Brasil pode sofrer boicote comercial por queimadas e desmatamento

Aumento das queimadas e desmatamento podem levar 8 países europeus a boicotarem comércio com Brasil

Published 28/09/2020
queimada amazônia

Foto: Christian Braga | Greenpeace

A preocupação internacional em relação às queimadas na Amazônia que em 2019 já era consistente, piorou ainda mais em 2020. Este ano o fogo e o desmatamento foram ainda maiores e as ações para interromper a destruição de biomas brasileiros parece não acompanhar a gravidade da situação.

Frente à este cenário, muitos governos e instituições ao redor do mundo acreditam eu um possível boicote ao comércio com o Brasil seja um caminho para dar fim às queimadas e desmatamento no país.

Seis países europeus e o Reino Unido enviaram uma carta de ao governo brasileiro protestando contra a atual política ambiental e ameaçando romper relações comerciais com o país caso nada seja feito.

As queimadas em dois biomas brasileiros, a Amazônia e o Pantanal, atingiram números recordes em 2020. Os sete países que assinaram a carta de alerta e protesto foram Alemanha, França, Holanda, Noruega, Dinamarca, Itália e Reino Unido – os mesmos países que assinaram a Declaração de Parceria de Amsterdã em 2015, para garantir uma cadeia sustentável de commodities. A Bélgica também declarou apoio à mensagem.

Foto: © Christian Braga | Greenpeace

Pior que 2019

A carta foi enviada ao Brasil teve origem nas evidências de queimadas na Amazônia que em 2020 foram ainda piores do que as ocorridas em 2019, que já haviam levado a protestos internacionais contra o governo brasileiro. Nas duas primeiras semanas de setembro, o número de focos de calor foi maior do que o registrado durante todo o mês no ano passado.

Além disso, além do fogo na Amazônia, este ano foi marcado por incêndios no Pantanal. Uma área de mais de 3 milhões de hectares já foi destruída no bioma. Com o fogo, milhares de animais foram mortos e áreas de florestas foram devastadas – e a perda de biodiversidade é considerada uma das piores já presenciadas.

O fogo no Pantanal se espalhou com mais facilidade graças à uma seca sem precedentes. Investigações sobre a origem do fogo apontam para fazendeiros de gado que teriam iniciado as queimadas para abrir mais áreas para pastagens no Pantanal, que também abriga milhões de cabeças de gado.

Na carta, os países signatários alertam para o crescimento do desmatamento no Brasil, relacionado às queimadas, e lembra que no passado o país teve um crescimento de atividades agrícolas sem necessariamente destruir florestas.

Participação de supermercados

Entre os consumidores, empresas e investidores europeus, a preocupação com o as taxas de desmatamento é crescente. Recentemente, duas das maiores cadeias de supermercados da Alemanha, Edeka e Lidl, solicitaram ao governo alemão maior pressão sobre o governo brasileiro pela diminuição do desmatamento.

Foto: © Christian Braga | Greenpeace

Para Marcio Astrini, do Observatório do Clima, a carta vai influencias a decisão sobre o acordo entre a União Europeia e o Mercosul. “O governo do presidente Jair Bolsonaro está destruindo nossos biomas, ameaçando o clima mundial e o future da economia do país em nome de uma ideologia tóxica e estúpida, que favorece crimes ambientais em detrimento de sistemas produtivos e vantagens que o Brasil já teve”, alerta Marcio.

Protestos internacionais e nacionais

O governo brasileiro segue negando todas as evidências e diminuiu a importância da carta e do alerta europeu, afirmando se tratar de protecionismo comercial.

Mas não são apenas os países europeus que estão preocupados com a política ambiental e o desmatamento no Brasil. Em setembro, 230 empresas do agronegócio e ONGs se uniram em uma aliança inédita e apresentaram ao governo brasileiro propostas para o fim do desmatamento. A Coalização Brasil elaborou 6 ações para a queda rápida do desmatamento

O grupo inclui a WWF-Brazil, a Imazon, o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), e grandes multinacionais como a Bayer, Danone, Unilever, Natura, JBS, Marfrig e Amaggi. Tanto as empresas do agronegócio quanto às ONGs acreditam que a queda nas taxas de desmatamento é fundamental, não apenas por razões ambientais, mas também por motivos econômicos.

Foto: Mayke Toscano / Secom-MT

Entre as medidas propostas estão o monitoramento regular e a aplicação de multas para o desmatamento ilegal, ações que foram comprometidas pelo corte de verbas e desmonte dos órgãos ambientais.

Para a Coalizão Brasil, o acesso à financiamentos públicos deveria ter como critério o respeito às normas sócio ambientais e o avanço de proprietários privados sobre terras públicas de proteção ambiental deveria ser proibido.

Em outras palavras, as ações não passam por medidas inovadoras, mas pelo respeito à legislação já existente.

A Amazônia e o Pantanal são áreas naturalmente úmidas onde queimadas espontâneas não podem explicar a dimensão do fogo que atingiu os biomas. Áreas enormes foram incendiadas em 2019 e muitas árvores foram derrubadas para abrir espaço para pastagens e monoculturas agrícolas.

Catástrofe anunciada

Foto: Ascom CBPA

O fogo das queimadas se espalhou facilmente graças à seca que o país enfrenta, mas também à falta de investimento do Ministério do Meio Ambiente em programas de combate à queimadas.

Houveram avisos consistentes. Em junho, o IPAM declarou que o desmatamento da Amazônia em 2019 poderia levar a uma catástrofe na região em 2020.

Grandes nuvens de fumaça provenientes das queimadas cobriram cidades brasileiras e aumentaram consideravelmente o número de internações e incidências de doenças respiratórias nestas regiões, como demonstrou um estudo publicado em agosto.

*Com informações de Climate News Network

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