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Mudanças climáticas respondem por 37% das mortes relacionadas ao calor

Estudo traz alertas e sugere que as regiões mais afetadas são a América Central, América do Sul e Sudeste Asiático

Published 04/06/2021
mudanças climáticas

Imagem: Pixabay

Segundo artigo publicado na Nature Climate Change, entre 1991 e 2018, mais de um terço de todas as mortes relacionadas ao calor foram atribuídas ao aquecimento global induzido pelo homem.

Foram coletados dados de 732 locais em 43 países ao redor do mundo para demonstrar pela primeira vez a real contribuição da mudança climática causada pelo homem no aumento dos riscos de mortalidade devido ao calor.

A pesquisa foi uma colaboração dentre cientistas da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres (LSHTM), da Universidade de Berna e do Instituto de Pesquisa Mercator para Global Commons e Mudança Climática (MCC) e é considerada a o maior já realizada sobre o tema.

Alertas

Foto: Pixabay

As estimativas mostram que 37% de todas as mortes relacionadas com o calor nos últimos períodos de verão são atribuídas às mudanças climáticas provocadas pela ação humana, as chamadas atividades antropogénicas. Esta percentagem de mortes relacionadas com o calor atribuídas à mudança climática induzida por humanos foi maior na América Central e do Sul (até 76% no Equador ou na Colômbia, por exemplo) e no Sudeste Asiático (entre 48% a 61%).

Os dados revelam o número de mortes por alterações climáticas induzidas pelo homem em cidades específicas: 136 mortes adicionais por ano em Santiago do Chile (44,3% do total de mortes relacionadas com o calor na cidade), 189 em Atenas (26,1%), 172 em Roma (32%), 156 em Tóquio (35,6%), 177 em Madrid (31,9%), 146 em Banguecoque (53,4%), 82 em Londres (33,6%), 141 em Nova Iorque (44,2%) e 137 na cidade de Ho Chi Minh (48,5%).

Para os autores estes resultados são um alerta para que políticas de mitigação eficientes na redução de emissões de gases causadores de efeito estufa e consequente aquecimento. Estas medidas são fundamentais para proteger as populações do impacto causado pela  exposição ao calor, que inclui uma série de problemas de saúde e mortes.

“A proporção de mortes relacionadas com o calor deve continuar a crescer se não agirmos em relação às alterações climáticas ou nos adaptarmos”, alerta a Dra. Ana M. Vicedo-Cabrera, da Universidade de Berna e autora do estudo

“A temperatura média global aumentou cerca de 1°C, o que é uma fração do vamos enfrentar se as emissões continuarem a crescer sem controle.”

Dra. Ana M. Vicedo-Cabrera, Universidade de Berna
Foto: Pixabay

Presente e futuro

O aquecimento global já afeta a nossa saúde e a vida na Terra de várias maneiras. Os impactos na saúde humana podem ser relacionados às consequências de incêndios florestais causados ou agravados por mudanças climáticas, temperaturas extremas ou mesmo na propagação de doenças transmitidas por vetores relacionadas à condições climáticas.

Entre estas graves, o aumento da mortalidade e morbidade associada ao calor chama a atenção. A projeção para o futuro é de um aumento substancial nas temperaturas médias, que levam a eventos extremos, como ondas de calor, e consequente aumento do impacto na qualidade de vida e saúde humanas.

Mesmo com este cenário extremamente preocupante, este é o primeiro estudo consistente sobre a extensão dos impactos das mudanças climáticas na nossa saúde realizado em décadas.  Os resultados podem ser ainda mais alarmantes uma vez que foram limitados pela impossibilidade de incluir locais de regiões do mundo fortemente impactados pela crise climática, mas que não dispunham de dados empíricos para a pesquisa.

Foto: iStock

Nossa responsabilidade

O foco desta pesquisa foi justamente o aquecimento global causado pelo homem, com metodologia que identifica e atribui os fenômenos relacionados às mudanças no clima. Para isso, os cientistas examinaram as condições meteorológicas anteriores com simulações de cenários com e sem emissões antrópicas.

Com esta metodologia, os pesquisadores puderam separar o aquecimento e o impacto na saúde relacionado às atividades humanas das tendências naturais. A mortalidade relacionada ao calor foi definida como o número de mortes atribuídas ao calor, por exposições à temperaturas superiores à ideal para a saúde humana, que varia entre os locais.

Países em desenvolvimento são os mais afetados

Em média, mais de um terço das mortes relacionadas ao calor foram  causadas por mudanças climáticas induzidas pelo homem. Mas os números destes eventos variam muito entre diferentes regiões do mundo. As mortes relacionadas com o clima são diretamente impactadas pela variação de temperatura local e vulnerabilidade da população.

Numa proporção inversa, a população de países em desenvolvimento foi a mais afetada, apesar destes países responderem por uma parcela menor das emissões antrópicas no passado.

“Este é o maior estudo de detecção e atribuição sobre os riscos atuais das alterações climáticas para a saúde. A mensagem é clara: as alterações climáticas não terão apenas impactos devastadores no futuro, mas todos os continentes já estão a experimentar as terríveis consequências das atividades humanas no nosso planeta. Devemos agir agora.”

Antonio Gasparrini, coordenador do MCC

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