Ícone do site

Geleiras dos Andes Tropicais perdem 42% de superfície em 30 anos

Mudanças climáticas e aumento das queimadas na Amazônia estão entre as causas de fenômeno sem precedentes

Published 24/05/2022
geleiras andes tropicais

Foto: Pixabay

Um artigo científico publicado na Remote Sensing por especialistas da iniciativa MapBiomas Amazônia alerta para a rápida redução das geleiras dos Andes tropicais, com potenciais impactos ambientais, culturais e econômicos para as populações locais.

Segundo o artigo, entre 1990 e 2020, foi constatada uma perda de 42% da cobertura das geleiras tropicais andinas, que passou de um máximo de 2.429,38 km2 para apenas 1.409,11 km2. O recuo registrado nas últimas três décadas equivale a quase metade da extensão das geleiras tropicais andinas registrada em 1990.

O ritmo de mudança é rápido, com uma perda média anual de 28,42 km2. As mais afetadas foram as geleiras que estão a menos de 5.000 metros acima do nível do mar, que em 30 anos perderam quase 80,25% de sua área.

Imagem: Reprodução

Causas

Esse crescimento sem precedentes da perda de geleiras, tanto em extensão quanto em volume, pode ser atribuído às mudanças climáticas e a fatores não climáticos como o aumento das queimadas florestais nos últimos anos na Amazônia, que geram carbono negro que pode acelerar o recuo das geleiras ao entrar na superfície das geleiras.

“A queima das florestas gera carbono negro, que acelera o recuo das geleiras quando entra em contato com sua superfície”, explica Efrain Turpo, que liderou o estudo. Turpo destaca que a perda de geleiras afeta a integridade dos ecossistemas que dependem do ciclo da água, agricultura, abastecimento de água potável, geração de eletricidade, turismo, entre outros.

Imagem: Reprodução

Ações urgentes

Maria Olga Borja, coautora do artigo, reforça a importância de reduzir as emissões que se originam na destruição de florestas, com o avanço da agricultura e pecuária. O estudo ressalta ainda a urgência de os governos nacionais tomarem medidas decisivas para combater a crise climática, incluindo políticas e programas de adaptação às alterações climáticas, nomeadamente em bacias com geleiras, de forma a reduzir os impactos do degelo.

Além dos impactos ambientais e econômicos, a retração das geleiras leva à perda de bens culturais, uma vez que as montanhas nevadas são de especial valor para as populações locais.

“As populações dos países andinos vivem ainda hoje uma simbiose única entre o telúrico, o emocional e o natural, de modo que suas montanhas nevadas ao longo da Cordilheira dos Andes formam parte de sua visão de mundo, envolvendo mitos, lendas e práticas sociais e culturais ancestrais que sobrevivem até hoje, então a perda das geleiras representa um impacto em sua vida material e simbólica cotidiana”, aponta o sociólogo Raúl Borja Núñez.

La Paz, Bolívia. Foto: Pixabay

Metodologia

“A análise do MapBiomas Amazônia apresenta uma nova compreensão das mudanças que as geleiras estão experimentando anualmente em diferentes áreas da cordilheira tropical dos Andes, conhecimento que é vital para uma melhor gestão dos recursos hídricos e adaptação às mudanças climáticas das populações andinas”, afirma Maria Olga Borja, coautora do artigo.

Graças aos avanços nos últimos anos na acessibilidade e continuidade temporal dos dados de satélite e no desenvolvimento de plataformas de computação em nuvem, como o Google Earth Engine, foi possível mapear a evolução histórica da mudança das geleiras.

Ao cobrir toda a região dos Andes tropicais em 36 anos de mapeamento anual, este estudo do MapBiomas Amazônia pode ser considerado o mais abrangente atualmente disponível, diz Raúl Espinoza, coautor do trabalho.

O estudo foi realizado em colaboração com a Universidade Nacional Agrária La Molina, o Instituto de Pesquisas em Glaciares e Ecossistemas de Montanha, ambos do Peru, e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, do Brasil.

Imagem: Reprodução

Geleiras tropicais andinas

As geleiras tropicais andinas estão localizadas entre o Trópico de Câncer e o Trópico de Capricórnio (entre as latitudes 23◦N e 23◦S) dentro da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Com extensões variadas, estão presentes em todos os países andinos.

Aqueles com as maiores áreas são Peru (72,76%), Bolívia (20,35%) e Equador (3,89%). As maiores áreas glaciais, 44,75% do total, ocorrem na faixa entre −14◦ a −10◦ latitude, que contém as Cordilheiras Peruanas Blanca, Vilcanota, Vilcabamba e Urubamba. Nesses países, o recuo das geleiras em 2020 em relação a 1990 foi de 41,19% no Peru, de 42,61% na Bolívia e de 36,37% no Equador.

Colômbia, Chile e Argentina juntos respondem por 6,89% da cobertura das geleiras tropicais andinas (3,89%, 2,18%, 0,78% e 0,04%, respectivamente). A Venezuela tem percentual inferior a 0,01%, ou cerca de 0,03 km2. Apesar disso, teve uma perda de cobertura em 2020 em relação a 1990 de 96,93%. Na Colômbia, esse percentual foi de 60,19%; no Chile, de 47,24%; e na Argentina, de 45,47%.

Leia o artigo completo AQUI.

Foto: Pixabay

LEIA MAIS:

Sair da versão mobile