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Compromissos para Acordo de Paris não manterão aquecimento abaixo dos 2ºC

Metas assumidas no âmbito do tratado não são suficientes e precisarão ser alteradas em 2020.

Published 03/11/2017

As metas de cada país junto ao Acordo de Paris reduzirão em apenas um terço do necessário o volume de emissões de gases do efeito estufa. Com a implementação dos atuais compromissos nacionais, a temperatura da Terra provavelmente aumentará em pelo menos 3ºC até 2100 — bem acima do objetivo do Acordo, que visa manter o aquecimento global abaixo dos 2ºC até o fim do século. É o que revela uma nova pesquisa da ONU Meio Ambiente, divulgada na última terça-feira (31). Agência das Nações Unidas pediu revisão das metas.

O 8º Relatório sobre a Lacuna de Emissões aponta que as chamadas Contribuições Pretendidas Nacionalmente Determinadas (INDC) — metas assumidas pelos Estados-membros no âmbito do tratado — não são suficientes e precisarão ser alteradas em 2020, ano em que está prevista uma revisão dos compromissos.

Mesmo que as atuais promessas sejam cumpridas, as emissões de gases do efeito estufa chegarão, em 2030, a um valor anual equivalente a algo em torno de 11 a 13,5 gigatoneladas de gás carbônico. O volume estará bem acima do nível exigido para alcançar a meta dos 2ºC da forma menos custosa. Uma gigatonelada equivale aproximadamente ao total de emissões do setor de transporte, incluindo o segmento de aviação, da União Europeia.

Segundo o levantamento, as emissões de gás carbônico permaneceram estáveis desde 2014 devido, em parte, ao avanço da energia renovável na China e na Índia. Os números levaram especialistas a crer que o volume de CO2 liberado na atmosfera havia atingido um teto. Todavia, de acordo com o relatório, outros gases do efeito estufa — como o metano — continuam se proliferando e picos de crescimento econômico poderiam provocar um recrudescimento das emissões de gás carbônico.

“Um ano depois que o Acordo de Paris entrou em vigor, ainda nos encontramos em uma situação na qual não estamos fazendo o suficiente para salvar centenas de milhões de pessoas de um futuro infeliz”, afirmou o diretor-executivo da ONU Meio Ambiente, Erik Solheim. “Isso é inaceitável.”

A agência das Nações Unidas também lembrou a meta mais ambiciosa do Acordo de Paris — conter o aquecimento global até 1,5º C até 2100. Para esse objetivo, seria necessária uma redução de 16 a 19 gigatoneladas de CO2 até 2030.

Soluções

Apesar das projeções preocupantes, a pesquisa da ONU Meio Ambiente indica que soluções baratas já estão disponíveis para a comunidade internacional. Nos setores de agricultura, construção, energia, indústria, transporte e silvicultura, investimentos em tecnologia poderiam evitar a liberação do equivalente a 36 gigatoneladas de CO2 por ano até 2030. Os custos seriam pequenos — menos de 100 dólares por tonelada de CO2 não liberada.

O potencial de redução vem sobretudo de investimentos em energia solar e eólica e em equipamentos e veículos de passageiros com uso eficiente de energia, bem como de iniciativas de reflorestamento e de medidas para interromper o desflorestamento. Ações recomendadas para diminuir o impacto climático desses setores econômicos poderiam cortar em até 22% as gigatoneladas de CO2 calculadas para 2030.

Essas estratégias poderiam, por si só, recolocar o planeta numa rota mais viável e tranquila rumo à meta dos 2ºC. “Se investirmos nas tecnologias corretas, garantindo que o setor privado esteja envolvido, ainda podemos cumprir a promessa que fizemos às nossas crianças para proteger seu futuro. Mas temos que trabalhar nisso agora”, acrescentou Solheim.

Produção sustentável

O relatório da ONU Meio Ambiente também chama atenção para o papel que empresas e instâncias decisórias subnacionais, como os municípios, podem desempenhar para fechar a lacuna de emissões. Segundo o levantamento, as cem maiores empresas emissoras de capital aberto respondem por cerca de um quarto das emissões de gases do efeito estufa.

A pesquisa menciona ainda a Emenda de Kigali para o Protocolo de Montreal. O acréscimo ao texto original do tratado — que visa à proteção da camada de ozônio — prevê a eliminação do uso de hidrofluorocarbonos (HFC) em cadeias produtivas.

Essas substâncias são usadas primariamente na indústria de refrigeração e isolamento com espumas. Os compostos não destroem a camada de ozônio, mas agravam o efeito estufa. Caso seja adotada e implementada com sucesso, a Emenda não trará benefícios imediatos, mas poderá ter um impacto positivo para as metas a longo prazo do Acordo de Paris.

A situação é semelhante para os poluentes de vida curta. Até a metade do século, reduções no consumo de metano e carbono negro poderão evitar a elevação da temperatura a níveis perigosos até o final do século.

O levantamento das Nações Unidas também recomenda a descontinuação das atividades de usinas movidas a carvão, mas sem ignorar questões como emprego, interesses de investidores e a estabilidade dos sistemas de fornecimento de energia.

Atualmente, existem no mundo 6.683 usinas movidas a carvão. Juntas, elas geram 1.964 gigawatts. Se essas instalações operarem até o fim de sua vida útil e não forem adaptadas com mecanismos de captura e armazenamento de carbono, elas poderão emitir 190 gigatoneladas de CO2.

No início de 2017, novas usinas a carvão, com potência conjunta estimada em 273 gigawatts, estavam em construção e outras, com potência de 570 gigawatts, estavam em fase de pré-construção. Segundo as estimativas da ONU Meio Ambiente, as operações dessas instalações poderiam levar à liberação de cerca de 150 gigatoneladas de CO2. Dez países respondem por quase 85% de toda cadeia de produção do carvão — China, Índia, Turquia, Indonésia, Vietnã, Japão, Egito, Bangladesh, Paquistão e Coreia do Sul.

Acesse o relatório clicando aqui.

Por ONU Brasil.

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