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Cientistas apontam como enfrentar a crise climática e a perda de biodiversidade

Uma agenda integrada não deixaria nenhuma pessoa ou ecossistema para trás.

Published 02/07/2021
biodiversidade

Foto: Kyle Dias | Unsplash

Cientistas pedem aos líderes mundiais para enfrentarem de maneira conjunta a mudança climática e a perda da biodiversidade. O apelo é resultante de um workshop virtual realizado, durante quatro dias, em dezembro de 2020, pelo IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos) e pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas).

O encontro, que reuniu 50 dos maiores especialistas mundiais em biodiversidade e clima, deu origem a um relatório divulgado no último mês. O documento conclui que as políticas anteriores enfrentaram a perda de biodiversidade e a mudança climática de forma independente uma da outra. Também argumenta que abordar as sinergias entre ambas, ao mesmo tempo em que considera seus impactos sociais, oferece a oportunidade de maximizar os benefícios e atingir as metas de desenvolvimento global.

“A terra e o oceano já estão fazendo muito – absorvendo quase 50% do CO2 das emissões humanas -, mas a natureza não pode fazer tudo. Uma mudança transformadora em todas as partes da sociedade e de nossa economia é necessária para estabilizar nosso clima, deter a perda da biodiversidade e traçar um caminho para o futuro sustentável que desejamos. Isto também exigirá que enfrentemos ambas as crises em conjunto, de formas complementares”, afirma Ana María Hernández Salgar, presidente do IPBES.

O relatório aponta caminhos para resolver essas crises inter-relacionadas, mas é preciso mudar paradigmas para que se tenha mudanças concretas.

“A evidência é clara: um futuro global sustentável para as pessoas e para a natureza ainda é alcançável, mas requer uma mudança transformadora com ações rápidas e de longo alcance de um tipo nunca antes tentado. A solução de alguns dos fortes e aparentemente inevitáveis compromissos entre clima e biodiversidade implicará uma profunda mudança coletiva de valores individuais e compartilhados relativos à natureza – como o afastamento da concepção de progresso econômico baseado unicamente no crescimento do PIB”, diz Hans-OttoPörtner, climatologista do IPCC.

As recomendações do relatório do workshop incluem:

• Parar a perda e degradação de ecossistemas ricos em carbono e espécies em terra e no oceano;

Foto: Sangga Rima Roman Selia | Unsplash

• Restaurar ecossistemas ricos em carbono e espécies;

• Aumentar as práticas agrícolas e florestais sustentáveis;

• Eliminar subsídios que apóiam atividades locais e nacionais prejudiciais à biodiversidade;

• Orientar melhor as ações de conservação, coordenadas com e apoiadas por uma forte adaptação e inovação climática;

• Assegurar que os programas e políticas de conservação sejam multifuncionais, abordando as paisagens de terra, água doce e oceano em vez de se concentrar apenas em alguns elementos da natureza. Essas iniciativas também precisam beneficiar as comunidades locais;

• Quando soluções baseadas na natureza são utilizadas como compensações de carbono, elas são mais eficazes quando sujeitas a condicionantes rigorosos, e não devem ser utilizadas para retardar ações de mitigação em outros setores. Isto é particularmente importante dado que as soluções baseadas na natureza são provavelmente menos eficazes sob a crescente mudança climática e seus impactos.

Medidas de mitigação e adaptação climática que seriam prejudiciais à biodiversidade:

Foto: Loren King | Unsplash

• Plantio de monoculturas bioenergéticas sobre grandes extensões de terra;

• Plantio de árvores em ecossistemas que historicamente não foram florestas e reflorestamento com monoculturas – especialmente com espécies de árvores exóticas;

• Aumentar a capacidade de irrigação para a agricultura em resposta às pressões da seca;

• Alertam ainda: quaisquer medidas que se concentrem muito na mitigação da mudança climática devem ser avaliadas em termos de seus benefícios e riscos gerais.

Algumas das principais estatísticas:

• 77% das terras (excluindo a Antártica) e 87% da área do oceano foram modificadas pelos efeitos diretos das atividades humanas;

• Estimativas globais das necessidades exatas de áreas efetivamente protegidas e conservadas para garantir um clima habitável, biodiversidade autossustentável e uma boa qualidade de vida ainda não estão bem estabelecidas, mas variam de 30% a 50% das áreas de superfície oceânica e terrestre.

Foto: Slavena Peneva | Unsplash

• Há 12.983 compensações de biodiversidade listadas implementadas em 37 países, porém apenas um terço das compensações de biodiversidade atende comprovadamente ao princípio de “nenhuma perda líquida” (NNL).

• Globalmente, foi estimado que o sistema alimentar é responsável por 21-37% do total das emissões líquidas antropogênicas de gases de efeito estufa ao incluir as atividades de pré e pós-produção.

• Manter ou restaurar 20% do habitat nativo em “paisagens habitadas/alteradas pelo homem pode contribuir para as metas globais de clima e biodiversidade, ao mesmo tempo em que gera múltiplos benefícios, através de soluções baseadas na natureza e outras abordagens baseadas em ecossistemas.

Os autores do relatório ressaltam que, embora a natureza ofereça formas eficazes de ajudar a mitigar a mudança climática, essas soluções só podem ser eficazes se forem baseadas em reduções ambiciosas em todas as emissões de gases de efeito estufa causadas pelo homem. Uma agenda integrada de mudanças climáticas e biodiversidade, diz o relatório, não deixaria nenhuma pessoa ou ecossistema para trás.

Confira o relatório completo, em inglês.

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