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Atletas podem encontrar “caldeirão olímpico” em Tóquio

Temperaturas e umidade também podem bater recordes nas Olimpíadas, graças a mudanças climáticas e ocupação urbana

Published 15/06/2021
Olimpíadas Tóquio temperaturas

Foto: Pixabay

Os jogos Olímpicos de 2021 terão restrição de público, mas milhares de pessoas serão recebidas no Japão, incluindo atletas, treinadores, dirigentes e uma série de profissionais necessários para a realização dos jogos, de fisioterapeutas a jornalistas. Estas pessoas irão seguir rígidos protocolos sanitários, mas além da pandemia, terão que enfrentar outro forte adversário: o clima.

As temperaturas durante o dia podem ultrapassar os 37°C e a umidade do ar deve ficar em torno de 80%, o que pode ser um recorde para as Olimpíadas de Tóquio, que se tornariam os jogos mais quentes e úmidos já realizados. A mesma preocupação se estende às Paraolimpíadas, que começam no final de agosto.

O professor de Meio Ambiente e Planejamento Urbano da Universidade de Tóquio, Makoto Yokohari tem estudado as condições climáticas nas últimas Olimpíadas e, em entrevista à agência de notícias Reuters, disse que as Olimpíadas em Tóquio podem ser bem difíceis.

“Quando se trata de estresse por calor ou insolação, o problema não é apenas a temperatura, mas também a umidade. Quando você combina os dois … Tóquio é o pior da história.”

Makoto Yokohari, professor de Meio Ambiente e Planejamento Urbano da Universidade de Tóquio
Tóquio será o palco das Olimpíadas em 2021. Foto: Pixabay

Esporte na mira do clima

A exaustão pelo calor será um perigo constante para os atletas. Mara Yamauchi foi maratonista nas Olimpíadas de 2008 e 2012 e diz que os eventos esportivos são cada vez mais afetados pelas mudanças climáticas.

Em um relatório especial produzido pela British Association for Sustainable Sport (Basis), com o sugestivo nome de Rings of Fire (Anéis de Fogo), sobre o impacto das mudanças climáticas no desempenho atlético, Yamauchi diz que o aumento das temperaturas tem um efeito óbvio nos esportes ao ar livre, não apenas nos atletas, mas em todos os profissionais envolvidos no evento, como membros da organização, imprensa e no próprio público.  

“O esporte desperta paixão, nos motiva e fascina. Mas existe um grande risco de que o esporte, como o conhecemos hoje, seja verdadeiramente afetado se nada for feito em relação às mudanças climáticas.”  

Mara Yamauchi, maratonista olímpica
Esportes ao ar livre estão entre os que mais vão sofrer com as consequências das mudanças climáticas. Foto: Nicolas Hoizey Poa | Unsplash

Pesquisadora do Priestley International Center for Climate da University of Leeds, no Reino Unido, Paloma Trascasa-Castro foi uma das autoras do relatório da Basis e afirma que a temperatura média em Tóquio aumentou 2,86°C desde 1900, mais de três vezes mais rápido que o aumento médio global. 

Períodos de calor extremo na cidade tornaram-se mais comuns, especialmente depois de 1990. “As mudanças no uso do solo e na urbanização em Tóquio também contribuem para aumentar o efeito do calor urbano, que retém o calor na superfície e impacta a termorregulação, prejudicando efetivamente a capacidade de respiração de uma cidade”, explica Paloma.

Estresse por calor

Tóquio sediou as Olimpíadas pela última vez em outubro de 1964, quando as temperaturas estavam bem mais baixas. Em 2021, a realidade deve ser bem diferente.

O professor Mike Tipton, da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, também colaborou para o estudo Basis e acredita que Tóquio provavelmente será a Olimpíada mais “termicamente estressante” já realizada e que as condições climáticas vão prejudicar o desempenho de muitos atletas.

Entre os eventos que fazem parte do relatório, está o Campeonato Mundial de Atletismo de 2019 em Doha, no Catar. Na ocasião, por causa do calor e da umidade no estado do Golfo – sede da copa do mundo de futebol do ano que vem – 28 das 68 competidoras da maratona feminina não conseguiram terminar.

Foto: Quino Al | Unsplash

Para evitar que este tipo de coisa se repita, os organizadores das Olimpíadas de Tóquio mudaram as maratonas e as caminhadas de longa distância para Sapporo, no norte do Japão, onde as temperaturas são consideravelmente mais baixas. 

No entanto, o resto dos atletas e todas as pessoas envolvidas com a realização dos Jogos Olímpicos irão encontrar adversários fortes nas condições climáticas de Tóquio.

Com informações de Climate News Network

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