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América do Sul pode perder US$ 17 trilhões com mudanças climáticas

Estudo alerta para graves prejuízos econômicos na região até 2070, se não forem adotadas ações ambiciosas até 2030

Published 31/05/2022
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Flagrante de seca no Brasil, em 2015, em publicação da FAO. Foto: Gabriel Lindoso | Greenpeace

As mudanças climáticas devem afetar a economia mundial, e especialmente a América do Sul, de forma bastante negativa nas próximas décadas, causando prejuízos de trilhões de dólares e eliminando milhões de vagas de emprego. O quadro, no entanto, pode ser evitado caso os países, por meio de seus governos, empresas e ONGs (Organizações Não-Governamentais), comecem a agir imediatamente.

Estas são algumas das principais conclusões do estudo “The Turning Point — Um novo clima econômico na América do Sul”, realizado pela Deloitte, organização de serviços profissionais, a partir de sua divisão Deloitte Economics Institute. O relatório global, lançado durante o Fórum Econômico Mundial 2022, em Davos, na Suíça, destaca, ainda, que a década atual (2021-2030) será decisiva: é preciso preparar desde já o terreno para uma rápida descarbonização, com vistas a um futuro de ações climáticas ambiciosas.

De acordo com o estudo, se as mudanças climáticas não forem controladas, a América do Sul terá perdas econômicas de aproximadamente US$ 17 trilhões entre 2021 e 2070. Nesse cenário futuro, pode haver 18 milhões de empregos a menos na região em 2070. Nesse mesmo ano, a América do Sul pode sofrer a perda de 12% de seu PIB, valor equivalente a US$ 2 trilhões.

Por outro lado, se o aquecimento global for limitado a até 1,5°C, a América do Sul escaparia desse cenário negativo e ainda teria 2 milhões de empregos adicionais e US$ 150 bilhões a mais de PIB. Dessa forma, a partir de meados da década de 2060, a América do Sul atingiria seu ponto de virada, quando os ganhos econômicos da descarbonização começariam a superar os custos.

Mas para isso é urgente que governos, empresas e ONGs comecem a agir imediatamente, ainda nesta década.

Imagem: Pixabay

Sistemas inteiros podem ser afetados

As mudanças climáticas afetarão fortemente sistemas inteiros, como os relacionados à agricultura, saúde manufatura, infraestrutura e finanças. No caso da agricultura, o setor é particularmente vulnerável aos riscos climáticos. A capacidade de produzir diferentes culturas anualmente está intimamente ligada à disponibilidade de água e à dependência de insumos químicos. Secas ou inundações podem arrasar safras, o que aumentaria os pagamentos de seguro agrícola, tornando os produtos mais caros para seguradoras, produtores e contribuintes.

O uso de insumos químicos, como fertilizantes, que dependem de combustíveis fósseis, pode ser afetado, pois os custos dessas commodities estão atrelados a novas regulamentações e a novos tributos. O setor extrativista industrial também é bastante vulnerável aos riscos climáticos físicos, especialmente atividades como mineração, extração de petróleo e processamento de matérias-primas.

Com emissões no patamar atual, temperatura média pode subir até 4°C em algumas regiões do continente. Foto: Fernando Frazão | Agência Brasil

Já o setor de serviços está particularmente exposto ao estresse térmico e aos impactos climáticos na saúde humana. Nos próximos 50 anos, as mudanças climáticas podem reduzir o valor agregado bruto dos serviços na América do Sul em US$ 7,1 trilhões, em termos de valor presente líquido acumulado até 2070.

A produtividade menor resultante dos impactos climáticos gera grandes perdas econômicas no setor de serviços, devido à escala de empregabilidade. Outras áreas da economia também seriam afetadas. Eventos climáticos extremos e danos a ativos físicos podem reduzir a produção industrial da América do Sul em US$ 3,5 trilhões até 2070, e os setores de varejo e turismo perderiam US$ 2,3 trilhões, por exemplo.

Ameaça maior para os mais pobres

Conforme aumentam, a frequência e a intensidade dos eventos climáticos extremos deverão ter efeitos desproporcionais sobre os mais pobres, especialmente em um país desigual como o Brasil.

Conscientização sobre os riscos e as ações para reduzi-los aumentaram globalmente, mas medidas de adaptação têm sido insuficientes diante da magnitude do problema. Cena do desastre causado pelo excesso de chuvas em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Foto: Tânia Rego | Agência Brasil

Além disso, a perda de produtividade da terra no curto prazo (até 2030) como resultado das mudanças climáticas ameaçará a segurança alimentar das populações de baixa renda, principalmente na região Nordeste do País. O estudo indica ainda que qualquer futuro ‘net zero’ vislumbrado para o Brasil deverá considerar a participação significativa de toda a população, abordando os efeitos sociais e econômicos da transição.

Brasil ainda pode ser líder

O Brasil, considerando sua riqueza de recursos naturais, tem potencial de ser líder nessa transição global para um mundo resiliente ao clima. O estudo ressalta que o país mantém o potencial de ser líder na transição global.

Espera-se que o abastecimento de água doce e a presença de ecossistemas biodiversos do Brasil tornem-se mais valiosos à medida que o planeta aquece: 60% da Bacia Amazônica está dentro das fronteiras do Brasil, assim como 20% da água doce do mundo. Fazer a transição para uma economia de baixo carbono permitiria ao País tornar-se mais competitivo e aproveitar oportunidades da emergente economia global de baixas emissões.

Para alcançar um cenário ‘net zero’, no entanto, metas de neutralidade de carbono para 2050 precisariam ser legisladas em todos os países da América do Sul, o que pressionaria o Brasil a antecipar em uma década sua meta ‘net zero’ atual, de até 2060.

No Brasil, o setor de Agricultura, Florestas e Uso do Solo é o principal emissor de gases de efeito estufa. Por outro lado, é aquele com o maior potencial para reduzir suas emissões brutas e realizar o sequestro de carbono, para chegar em 2060 com emissões líquidas negativas.

Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas. Foto: © Victor Moriyama | Amazônia em Chamas

Metodologia

O relatório parte de uma análise de cenário para responder a duas perguntas sobre política climática. A primeira é: quais seriam os custos econômicos da inação climática para a América do Sul? A segunda: quais são os benefícios econômicos de limitar o aquecimento global em cerca de 1,5°C para a região?

As análises indicam respostas para essas perguntas para a América do Sul e o Brasil. Neste estudo, o Deloitte Economics Institute apresenta uma linha de base econômica que demonstra o impacto que as mudanças climáticas não controladas podem ter sobre a economia regional da América do Sul e suas principais indústrias.

A análise é baseada nos resultados do D.Climate da Deloitte, modelo interno que examina os impactos para a economia tanto da ação quanto da inação sobre a mudança climática.

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