Família Schurmann embarca para China com barco sustentável
Viagem se baseia na teoria de que os chineses foram os precursores das viagens de descobrimento.
Viagem se baseia na teoria de que os chineses foram os precursores das viagens de descobrimento.
Há 30 anos o casal Vilfredo e Heloísa Schurmann deixaram a confortável vida de economista e professora de inglês para, a bordo de um veleiro, conquistarem novas experiências de vida e terem outro olhar para o mundo. Levando os filhos ainda pequenos, Wilhelm, de 7 anos, David, 10 anos, e Pierre, 15 anos, eles deram a primeira volta ao mundo, que durou uma década. No domingo (21), a família partiu de Itajaí, Santa Catarina, para mais uma aventura em que percorrerão mais de 30 mil milhas até a China.
Foto: Fabio Nunes
Baseado na teoria de que os chineses foram os precursores das viagens de descobrimento, a Família Schurmann parte em busca de indícios que comprovem a tese. Batizada de Expedição Oriente, a viagem refaz os caminhos que supostamente teriam trazido os chineses à América e conta com o apoio do ex-oficial da Marinha Inglesa Gavin Menzies, autor do livro “1421: o ano que a China descobriu o mundo”. “Estive três vezes com o embaixador da China para nos dar apoio porque lá é preciso do apoio do governo, principalmente, marinho”, explica Vilfredo, capitão da expedição.
Dos filhos, apenas Wilhelm estará presente em toda a viagem, que tem previsão de retorno para dezembro de 2016. Em alguns trechos, farão parte também Pierre e David, este último é o líder da tripulação em terra. Na Antártica, com previsão de chegada em dezembro deste ano, o neto Emmanuel se juntará à tripulação. O garoto de 23 anos passa por um tratamento contra o Linfoma de Hodkin, um tipo de câncer que se origina nos gânglios – ele descobriu a doença há quatro meses.
Da esquerda para a direita: Emmanuel, Pierre, Wilhelm, Vilfredo, Heloísa e David. Foto: Fabio Nunes
Na Antártica eles pretendem ficar três semanas. Durante esse tempo, vão aguardar uma boa meteorologia para atravessar a “Passagem de Drake”, conhecida como uma das zonas com as piores condições meteorológicas marítimas do mundo.
Mas, não só de turbulências viverá a Família Schurmann. Eles pretendem aproveitar todos os cantos que passarem, gravando vídeos e conhecendo outras pessoas, até porque dividir o mesmo espaço diariamente com as mesmas pessoas não deve ser nada fácil. “A gente para muito porque a gente curte muito os costumes, a cultura de cada povo. Precisamos desse tempo”, diz Vilfredo.
Expedição sustentável
Todas as viagens anteriores foram realizados com o veleiro Aysso de 16 metros. A nova embarcação batizada de Kat, em homenagem a uma filha adotiva que faleceu em 2013 em decorrência do vírus HIV – do qual era portadora desde o nascimento – , possui 24 metros e soluções sustentáveis em toda sua estrutura.
“Já tínhamos energia eólica. Nesse agregamos mais tecnologias, como os painéis solares, hidrogerador, que, quando o barco estiver navegando à vela, é um tipo de motor de popa que possui uma turbina com uma minúscula hélice e gera muita energia”. Pela própria movimentação do barco, a energia será movida pela força das correntes marítimas, armazenada e utilizada à medida que for necessário.
Foto: Fabio Nunes
O capitão explica que as 84 luzes elétricas que o barco possui, mais geladeira e eletrônicos, poderá ser abastecida pelo hidrogerador junto ao gerador eólico. “Todo o meu consumo será 500 watts, é ultra baixo consumo”. Aliado às essas tecnologias, o barco ainda possui duas bicicletas ergométricas em que cada tripulante gastará de 130 a 150 kcal – cada um pedalando por uma hora e gerando de 150 a 200 watts. São dez tripulantes, o que equivale a uma média de 2000 watts.
A ideia é que a fonte não renovável – a embarcação possui dois motores – seja utilizada em manobras do porto e quando for realmente necessário, todo o resto da energia a ser suprida durante a navegação utilizará as fontes renováveis.
Foto: Fabio Nunes
Além disso, todo o lixo produzido será devidamente tratado. “Nossa legislação no barco é mesma da Antártica e Alasca, onde você só pode entrar se tiver tratamento de esgoto”, afirma Vilfredo. A compostagem, por exemplo, será utilizada para tratar o lixo orgânico dos tripulantes e ainda vai gerar um fertilizante para ser colocado em duas hortas instaladas dentro do barco.
“O resíduo orgânico, por meio da compostagem, pode virar um adubo. A diferença é que eles vão utilizar um bioextrato que acelera esse processo de 90 para 20 dias. O produto também consegue aumentar a capacidade produtiva em até 20% sem utilizar mais solo”, explica Claudia Sérvulo, coordenadora do Instituto Solvi, responsável por todas as tecnologias sustentáveis instaladas no barco.
Foto: Fabio Nunes
Haverá um sistema para reutilizar a “água cinza”, que é o caso da água do chuveiro e da pia, e também das chamadas “águas negras”, proveniente do vaso sanitário. No segundo caso, o efluente passará por um tratamento para retirar os extratos que tem capacidade mais poluente. Todos os esforços serão feitos para que não haja descarga de águas poluidoras no mar.
Foto: Fabio Nunes
Uma semana antes da viagem o barco foi inspecionado por alemães. Entre os testes realizados, verificou-se a estabilidade do barco e até mesmo a roda de leme foi confrontada com 80 quilos de chumbo e um pêndulo para verificar se ela resistia ao impacto. Com isso, o barco recebeu certificação do conselho europeu.
Não bastasse todas as inovações, ainda haverá um equipamento que colherá amostras de água e enviará as informações para estudiosos da USP (Universidade de São Paulo).
“Poderia passar essa noite citando números e números envolvendo a construção desse veleiro que foi um grande desafio, mas quero falar de algo que não é mensurável, que não tem limites, que é o sonho e a satisfação que é poder contar com o empenho de centenas de pessoas que acreditaram e trabalharam e tornaram esse sonho realidade”, as palavras ditas pelo Vilfredo marcou o coquetel de lançamento, que ocorreu um dia antes da partida. Em seguida, agradeceu aos patrocinadores da viagem: Estácio, HDI e Solvi.
Despedida da família Schurmann. Foto: Fabio Nunes
“Essas tecnologias foram o que mais demoraram para fazer o barco. Com painel solar mais a família pedalando, gerando e reduzindo em termos de valores econômicos. Isso é eficiência energética e essa é uma bandeira que estamos levando”, orgulha-se Vilfredo.
Por Marcia Sousa – Redação CicloVivo