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Buracos em semicírculo estão ajudando a recuperar o solo no Quênia

A técnica simples e ancestral ajudou a recuperar 766 hectares em uma comunidade no país.

Published 26/04/2022
buracos em semicírculo

Foto: JustDiggIt

Cavar buracos rasos em formato de semicírculo pode parecer uma técnica muito simples, mas foi ela que ajudou a recuperar 766 hectares (o equivalente a mais de mil campos de futebol) nas terras da comunidade Maasai, no Quênia.

O Rancho do Grupo Kuku está localizado no sul do país africano e atua como um corredor crítico de vida selvagem entre o Parque Nacional Amboseli e o Parque Nacional Tsavo. A fazenda do grupo abriga cerca de 29 mil pessoas Maasai que dependem principalmente da terra como principal fonte de renda e alimentação.

Devido ao excesso de pastagem e às mudanças climáticas, a área tornou-se muito seca, dificultando para as comunidades locais viverem da terra. Foi então que a organização holandesa JustDiggIt propôs um sistema para restaurar a terra degradada. O projeto foi desenvolvido juntamente com a comunidade Maasai em parceria com a Maasai Wilderness Conservation Trust (MWCT).

A solução criada por eles foi cavar, com a ajuda de enxadas, diversos buracos rasos semicirculares para a retenção da água da chuva, como em um jardim de chuva. Até o momento, a comunidade Maasai já cavou 150.048 semicírculos que resultaram no reflorestamento de 766 hectares da área. A técnica simples e de baixo custo foi adotada para que pudesse ser replicada facilmente.

Centenas de diques feitos na comunidade Maasai | Foto: Reprodução documentário Rainmakers II

Chamados pela organização do projeto de “sorrisos de terra”, os diques rasos semicirculares (bunds, em inglês) funcionam como um jardim de chuva. Eles são escavados para capturar a água da chuva que, de outra forma, seria levada pelo solo seco e compactado.

A recuperação da vegetação tem muitos efeitos positivos no clima, no meio ambiente e na biodiversidade, nas pessoas e em seus meios de subsistência. “Ao cavar mais de 150.000 buracos semicirculares, conseguimos trazer de volta a vegetação no Rancho do Grupo Kuku, gerando benefícios ambientais e tornando a terra útil novamente para a comunidade”, afirma a organização JustDiggIt.

Vegetação em crescimento | Foto: JustDiggIt

Gerando renda para as mulheres

O projeto também implementou cinco bancos de sementes, que são administrados por cinco grupos diferentes de mulheres Maasai. Mais de 90 mulheres cultivam, colhem e vendem as gramíneas (feno) e sementes. Elas obtêm uma renda vendendo-os em mercados locais ou para organizações. Essa renda serve como meio de subsistência alternativo, tornando as mulheres mais independentes. Os bancos de sementes de capim formam um oásis verde nos arredores áridos, e o feno que as mulheres colhem é alimento para o gado nas estações secas. 

Mulheres da comunidade que cuidam dos bancos de sementes da comunidade Massai | Foto: JustDiggIt

Como funcionam os diques semicirculares? 

Os canteiros retendo a água da chuva | Foto: JustDiggIt

O aquecimento global e as secas persistentes causam degradação da terra em muitas áreas africanas. A camada superior do solo torna-se dura, o que impede que a água da chuva se infiltre no solo. Essa água da chuva flui para áreas mais baixas e lava a camada superior do solo fértil.

Início da germinação das sementes | Foto: JustDiggIt
A escavação dos buracos semicirculares abre essa camada dura superior e retém a água da chuva. Desta forma, a água tem mais tempo para penetrar no solo, restabelecendo o equilíbrio hídrico e dando as condições necessárias para as sementes presentes no solo germinarem. O sistema também regenera a área envolta dele, pois a água no solo também fica disponível para toda a região circundante. Com isso, as sementes localizadas fora dos canteiros também têm a chance de brotar.
Plantas crescendo no canteiro | Foto: JustDiggIt

A vegetação torna-se tão grande e extensa que começa a se espalhar e crescer fora dos canteiros, aumentando ainda mais a infiltração de água fora dos semicírculos. As sementes da vegetação se espalham e começam a crescer para fora, levando a um reflorestamento ainda maior.

Neste documentário é possível conferir todos os detalhes!

Resultado do reflorestamento | Foto: JustDiggIt

A organização JustDiggIt também atua em outros países da África levando essa e outras técnicas. Confira o resultado do mesmo sistema usado na Tanzânia:

Fotos: JustDiggIt
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