Ícone do site

Cabelo humano é usado para medir a poluição em Bangkok

Arquitetos pesquisavam o uso do material em construções e descobriram poluentes rastreáveis nos fios

Published 06/09/2021
cabelo poluição

Tecido criado com fios de cabelo. Foto: Paired

O cabelo humano pode ser uma boa ferramenta para medir a poluição em uma cidade. Foi o que descobriram os arquitetos ingleses Deborah Lopez e Hadin Charbel, que também desenvolveram um tecido feito de cabelo. A duplas têm analisado amostras de cabelo para mapear os níveis de poluição em diferentes áreas de Bangkok em um projeto chamado Folículo, no laboratório Paired.

O projeto teve início com uma investigação sobre o potencial do cabelo como material arquitetônico. A ideia surgiu com uma pesquisa que apontava que cerca de 6,5 milhões de quilos de resíduos de cabelo humano são produzidos no Reino Unido a cada ano e isso despertou na duplas de arquitetos a ideia de aproveitar o material como um recurso inexplorado para a construção sustentável.

Centenas de amostras de fios de cabelo foram analisadas. Foto: Paired

Durante esta primeira parte da pesquisa, eles descobriram a presença metais pesados nos fios de cabelo e decidiram usar o material como ferramenta de pesquisa em cidades com níveis perigosamente altos de poluição. As amostras contendo maiores quantidades de metais pesados ​​indicam níveis mais elevados de toxicidade ambiental.

“A poluição está se tornando um problema ambiental gigantesco”, explica Lopez. “Estávamos interessados ​​na capacidade do corpo humano de se tornar um sensor para isso, de refletir e registrar o ambiente onde você vive, onde respira e onde se come e bebe”.

Bangkok

Eles montaram sua primeira estação de teste em Bangkok. A cidade chamou a atenção porque em 2019 os altos índices de poluição forçaram o fechamento das escolas. Os arquitetos criaram uma instalação na Bangkok Design Week 2019, convidando os visitantes a cortar voluntariamente uma mecha dos cabelos e enviar para análise, juntamente com detalhes sobre seu ambiente e rotina.

A instalação era um espaço onde as pessoas podiam cortar uma pequena quantidade de cabelo e enviá-lo para análise. Foto: Paired

Como a toxicidade do cabelo é afetada por escolhas de estilo de vida – fumar e tingir o cabelo levam a um maior conteúdo de metal, por exemplo – os visitantes foram solicitados a fornecer algumas informações anônimas sobre si mesmos. Apesar disso, os arquitetos receberam uma grande quantidade de amostras de cabelo.

Os participantes eram anônimos, mas foram solicitados a fornecer alguns detalhes sobre si mesmos e seu ambiente do dia-a-dia. Foto: Paired

Resultados

A análise toxicológica mostrou ver ligações significativas entre certos tipos de ambiente e certos metais. Por exemplo, descobriu-se que as pessoas que moravam perto das principais rodovias tinham um volume notavelmente maior de arsênico no cabelo.

“A partir daquele momento, fomos capazes de unir essas duas histórias, toxicidade capilar e poluição no contexto de Bangkok”, disse Charbel.

Os resultados geraram uma “toxi-cartografia” de Bangkok. Foto: Paired

Com os resultados, Lopez e Charbel estão produzindo um mapa em 3D interativo de Bangkok, com informações sobre a toxicidade variada em diferentes áreas – para acessar, clique AQUI.

A dupla está atualmente apresentando suas pesquisas no Pavilhão da Espanha na Bienal de Arquitetura de Veneza.

Outras aplicações

No futuro, Lopez e Charbel esperam ser capazes de estabelecer estações de teste em mais cidades, para que possam começar a construir uma compreensão mais ampla das ligações entre as condições urbanas e a toxicidade do cabelo. Ao mesmo tempo, os arquitetos também continuam a explorar maneiras de usar resíduos de cabelo na construção civil.

Eles usaram uma máquina de feltragem para criar um tecido com fios de cabelo, que apareceu nas instalações de Bangkok e Veneza. Lopez sugere que este feltro pode ser usado como um material isolante, ou como algum tipo de painel acústico.

Tecido criado com fios de cabelo. Foto: Paired

O principal obstáculo a superar pode ser o estigma em torno da limpeza do material e do aspecto final. “Achamos interessante que nos sentimos confortáveis ​​com os cabelos de não humanos, com pelos de animais, mas temos nojo dos nossos próprios cabelos”, afirmou Lopez. “Queremos encontrar uma maneira de usar este material para criar algo pelo qual as pessoas se sintam atraídas.”

Sair da versão mobile