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Parece simples, mas não é. Entenda como é fabricado um lápis ecológico

Anualmente, 1,9 bilhão de EcoLápis são produzidos no Brasil e exportados para os quatro cantos do mundo.

Published 30/11/2015

O lápis é um dos instrumentos de escrita mais antigos do mundo. Sua praticidade e eficiência são tão grandes que ele continua a ser usado ainda hoje por pessoas de todas as idades e com diferentes finalidades. Mesmo sendo algo tão simples, ele gera negócio e a sua produção, em larga escala para suprir a demanda, também gera impactos ambientais. Mas, este problema tem solução: o lápis ecológico.

O CicloVivo foi convidado a conhecer todas as etapas de fabricação do EcoLápis, produzido pela Faber-Castell. A empresa, de origem alemã, é a líder mundial no mercado de lápis e também a única do mundo a trabalhar exclusivamente com madeira certificada pelo selo FSC. Afinal, é pela madeira que começa todo o caminho do lápis.

No começo era só uma sementinha

Cada detalhe neste processo industrial conta. Então, as sementinhas são apenas o início do trabalho. Em um viveiro, localizado na cidade mineira de Prata, a Faber-Castell produz as mudas de Pinus caribea a árvore usada para a fabricação do lápis. São necessários 25 anos desde o plantio dessa muda até o momento certo para o corte e manufatura da madeira.

Foto: Thaís Teisen/CicloVivo

Durante este período, o plantio recebe muita atenção e cuidado. Coisas simples, como a poda das árvores, são essenciais para garantir a madeira de qualidade lá no fim do processo, por exemplo. Mas, não é apenas o produto final que preocupa.

Por ser a maior fabricante de lápis do mundo, é necessário contar com muita matéria-prima. Isso significa que é preciso ter muitas árvores exóticas em uma mesma região. O pinus não é originário do Brasil, portanto existem preocupações específicas para garantir que essa floresta não interfira nas condições da biodiversidade local. Seguindo as normas ambientais brasileiras, a floresta em Prata (MG) tem 26% de sua área coberta por vegetação nativa, distribuídas em Áreas de Preservação Permanente (APP).

A empresa não para por aí. Uma equipe coordenada pelo engenheiro florestal Elias Leal Gonçalves, juntamente com empresas de consultoria terceirizadas, monitoram todas as espécies de fauna e flora da região, para que seja possível entender seus hábitos, analisar a incidência e entender como a ação humana tem interferido na biodiversidade local.

Gonçalves garante que todas as iniciativas de manejo são pensadas de forma a garantir a produção, ao mesmo tempo em que protege a biodiversidade. Quando indagado sobre a escolha do tipo de árvore usada na produção, o engenheiro explicou que algumas espécies nativas do Brasil já foram usadas para a fabricação de lápis. No entanto, a qualidade da madeira, muito mais resistente e densa, dificultava o uso, principalmente pelas crianças, que não conseguem apontar os lápis. Com uma floresta própria e todos esses cuidados ambientais, a empresa é considerada “carbono neutro”, ou seja, todo o carbono gerado na fabricação é neutralizado dentro do próprio processo produtivo.

Biomassa que alimenta a fábrica em Prata (MG). | Foto: Divulgação

Quando a mágica começa

Os funcionários costumam chamar a fabricação do lápis de mágica. A transformação de uma árvore em um instrumento de escrita conta com o esforço de muitas pessoas e a “mágica” é muito mais demorada e trabalhosa do que os truques de ilusionistas.

A primeira etapa acontece na fábrica próxima às florestas. A madeira cortada é transformada em “tabuinhas”. Como todas as peças da engrenagem trabalhando com extrema precisão, toda a matéria-prima é aproveitada, seja ela usada para a produção dos lápis ou para gerar energia limpa. Todo o maquinário e as estruturas das duas fábricas da empresa no Brasil funcionam a partir da biomassa coletada dos resíduos da fabricação. É tanto material, que é possível ter energia suficiente para o abastecimento e ainda comercializar o resíduo excedente.

A madeira cortada é transformada em “tabuinhas”. | Foto: Divulgação

São necessários dois meses desde que as “tabuinhas” são finalizadas para que elas passem à segunda etapa, que é quando o lápis começa a tomar forma.

Todo cuidado é pouco

O processo continua, mas em outro lugar. Após sair de Prata, em MG, o material é levado a São Carlos, onde está a outra unidade produtiva da Faber-Castell. É ali que tudo vai ganhar mais cor. Mas, antes que isso aconteça, ainda é preciso atentar aos mínimos detalhes de cada elemento usado na produção.

Os testes verificam o grau de toxidade, a qualidade, resistência, periculosidade e muito mais. | Foto: Divulgação

Em um laboratório químico altamente equipado, especialistas analisam todos os componentes usados nos produtos. As avaliações passam por todos os detalhes, desde o material usado na embalagem até os menores elementos aplicados na fabricação das minas (núcleo do lápis). Tudo é cuidadosamente estudado. Os testes verificam o grau de toxidade, a qualidade, resistência, periculosidade e muito mais, para garantir a segurança de qualquer pessoa que entre em contato com o produto final.

Foto: Divulgação

Segundo o engenheiro de produto, Marcel Atássio, as normas usadas pela companhia são as mais restritas do mundo. Ele explica que a Faber-Castell aplica em suas fábricas os padrões estabelecidos nas legislações ambientais internacionais mais rigosas que existem, independente de qual país as criou.

Com tudo aprovado, é hora de ver as coisas tomando forma. As tabuinhas são recheadas com as minas, cortadas e ganham forma de lápis. A finalização acontece com um banho de tinta, carimbo e ponta feita. Aí, então, os EcoLápis são embalados e destinados aos postos de venda.

Foto: Thaís Teisen | CicloVivo

Além das quatro paredes

Paralelo à produção dos lápis, existem muitas coisas acontecendo. Na região de Prata, por exemplo, a Faber-Castell se encarrega de desenvolver ações de conscientização e educação ambiental com a comunidade, além de ser uma das principais colaboradoras do desenvolvimento econômico e social da região.

As atividades incluem educação ambiental, com visita às florestas e coleta de sementes, realizadas com alunos das escolas públicas da cidade; visitas aos produtores para explicar os cuidados necessários com a preservação das nascentes, recursos hídricos e solo; prevenção, monitoramento e conscientização sobre os riscos dos incêndios florestais, entre outras coisas.

Parece fácil, mas não é

Usar um lápis é algo tão simples e natural, que chega a ser difícil imaginar que para que cada um deles seja fabricado é necessário esperar 25 anos e contar com o esforço de muitas pessoas no meio do caminho.

A fábrica de São Paulo é a maior do mundo. | Foto: Divulgação

Anualmente, 1,9 bilhão de EcoLápis são produzidos no Brasil e exportados para os quatro cantos do mundo. Mesmo com uma escala tão grande, isso não tem impedido que a sustentabilidade seja considerada em todas as etapas do processo. Como a mágica não é tão simples no mundo real, é preciso contar com muito conhecimento e esforço para transformar negócios tradicionais em negócios sustentáveis. A tarefa é difícil, mas não é impossível.

Por Thaís Teisen – Redação CicloVivo

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