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Festival online debate múltiplas infâncias e formas de educar crianças

Filmes e debates revelam a riqueza dos saberes de povos indígenas, quilombolas e de religiões de matriz africana na educação de crianças

Published 06/07/2021
educação indígena

Foto: Divulgação

Vem aí o MIMUS: Múltiplas Infâncias, Múltiplos Saberes, de 6 a 10 de julho, totalmente on-line e gratuito. Em cinco dias de programação intensa, com filmes e debates sobre a infância e desenvolvimento das crianças pequenas em povos indígenas, quilombolas, de terreiros – comunidades que vivenciam religiões de matriz africana, grupos rurais e espaços periféricos.

Durante o evento, que será transmitido pelo canal de YouTube da Usina da Imaginação, serão lançados documentários curtas-metragens da série Primeira Infância Indígena, com direção dos cineastas Rita da Silva e Kurt Shaw. As inscrições estão abertas e podem ser feitas AQUI

No total são 15 convidados, entre eles profissionais referência e reconhecidos nacionalmente em suas áreas de atuação e inovadores no âmbito local. Participam nomes como André Baniwa (AM), escritor e liderança indígena do Alto Rio NegroPriscila Obaci (SP), cofundadora da Capulanas Cia de Arte Negra e Umoja, que realiza criações cênicas com base na pesquisa das culturas de matrizes africanas; Joziléia Kaingang (SC), indígena Kaingang, antropóloga e pesquisadora; Elizete Antunes Ara’i (SC), liderança Guarani, com Licenciatura Intercultural Indígena pela UFSC; Christiane Rocha Ciovana Falcão (SE), consultora em políticas públicas de promoção da igualdade racial e de gênero; e Luciano Ramos (RJ), historiador com especialização em Políticas Públicas para a infância e experiência em educação em gênero e sexualidade.

Foto: Divulgação

O objetivo do MIMUS, segundo a diretora do evento Rita da Silva, é tanto abrir espaço para trocas sobre saberes locais relacionados ao desenvolvimento das crianças pequenas, quanto ouvir a fala de diferentes grupos que historicamente não têm suas práticas de cuidados respeitadas e consideradas na construção de políticas públicas que impactam em suas próprias vidas.

“Os povos indígenas, por exemplo, reivindicam o diálogo para construção de programas e políticas públicas que respeitem ao seu modo de vida, como o cuidado com as crianças e o uso da terra, respeito ao modo de fazer parto, respeito a rituais sagrados do nascer e crescer, o uso da língua materna etc. A diversidade de práticas de cuidados para o desenvolvimento da primeira infância respeitam um conhecimento milenar que deve ser visto como patrimônio cultural. Não podemos mais ignorar que esses povos têm muito a nos ensinar”, diz Rita.

Série documental

Durante o evento, será lançada a série documental Primeira Infância Indígena, com direção de Rita da Silva e Kurt Shaw, realizada com os povos indígenas do Alto Rio Negro, na região amazônica. Os cinco filmes curtas-metragens trazem reflexões importantes sobre como os povos originários do Rio Negro pensam e atuam para o desenvolvimento da primeira infância.

“Mostra a capacidade deles de desenvolver plenamente suas crianças, além de valorizar as práticas locais relacionadas à primeira infância”, conta Rita da Silva, que é antropóloga.

Por exemplo, licença maternidade X paternidade, pauta na qual o país não avançou, já existe na cultura indígena como um resguardo para homens e mulheres: “O pai fica com o bebê e cuida dele e da mãe”, conta Maria Pedrosa, da etnia Tukana, em curta-metragem da série.

“Um dia André Baniwa, líder do povo Baniwa, nos disse: ‘pense numa criança de 3 a 4 anos que sabe diferenciar 19 tipos de mandiocas, remar canoa, nadar de um lado de um igarapé ao outro, sabe a diferença entre frutas venenosas e frutas boas e fala pelo menos quatro idiomas. E o Estado vem nos dizer que não somos capazes de desenvolver nossas crianças’. Isso me marcou muito.”

Kurt Shaw, filosofo
Foto: Divulgação

A série começou a ser produzida em 2015, quando Rita e Kurt entrevistaram mulheres de aldeias do rio Içana que tinham como tradição cantar cantigas de ninar para crianças.

Em 2018 e 2019, já com a produção avançada, Rita, Kurt e uma equipe de produção e pesquisa indígena exibiram os filmes ainda não finalizados mais de 50 vezes em mostras em aldeias e espaços urbanos onde vivem famílias indígenas. O objetivo foi falar com os povos originários sobre as práticas de cuidados locais mais importantes e nesse processo, ampliar a contribuição deles na construção das narrativas.

“Os filmes cresceram por conta da participação das pessoas que assistiram. Acrescentamos novas ideias, novas entrevistas e novas imagens depois”, conta Kurt.

Foto: Divulgação

No Alto Rio Negro vivem 27 etnias, que falam 22 línguas. Na série de documentários, cinco línguas estão presentes nas narrativas: baniwa, tukano, nheengatu, tuyuka e português. Todos os curtas são legendados em português.

O projeto da série de documentários venceu o edital Saving Brains, do Governo do Canadá, em 2017. No Brasil, a iniciativa tem apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal e da Fundação Bernard van Leer.

MIMUS: Múltiplas Infâncias, Múltiplos Saberes

De 6 a 10 de julho pelo www.youtube.com/usinadaimaginacao

GRATUITO: Inscrições abertas: mimus.usinadaimaginacao.org/

Programação

terça | 6 de julho

19h00 – Abertura do evento

19h40 – Debate “Primeira infância e desenvolvimento infantil comunitário”

21h30 – Exibição do curta “Estímulos” da Série Primeira Infância Indígena

quarta | 7 de julho

19h00 – Exibição do curta “Nutrição e Saúde” da Série Primeira Infância Indígena

19h30 – Debate “Crianças pequenas Indígenas, diversidade de cuidados e desenvolvimento”

21h00 – Exibição do curta “Gravidez e Parto” da Série Primeira Infância Indígena

quinta | 8 de julho

19h00 – Exibição do curta “Proteção” da Série Primeira Infância Indígena

19h30 – Debate “Primeira infância, cuidados e universo simbólico e religioso”

21h15 – Exibição do curta “Canto e Linguagem” da Série Primeira Infância Indígena

sexta | 9 de julho

19h00 – Exibição do curta “Orientação” da Série Primeira Infância Indígena

19h15 – Debate “Primeira infância, diversidade de gênero e desenvolvimento”

21h00 – Exibição do curta “Maria Teresa” da Série Pequenas Exploradoras

sábado | 10 de julho

08h45 – Exibição do curta “Políticas Públicas” da Série Primeira Infância Indígena

09h00 – Debate “Adaptações das políticas públicas as múltiplas infâncias”

11h00 – Exibição do curta “Daire Késia”, da Série Pequenas Exploradoras

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