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Papa declara emergência climática e pede transição energética radical

Mensagem é voltada aos executivos de grandes companhias de petróleo e seus principais investidores.

Papa Francisco
Foto: Presidenciamx | Flickr

Nesta sexta-feira (14), o Papa Francisco deixou um sério alerta sobre as mudanças climáticas para executivos  de grandes companhias de petróleo e seus principais investidores. Numa reunião promovida pelo Vaticano, o Papa disse: “Diante de uma emergência climática, devemos tomar as devidas medidas para evitar a perpetração de um ato brutal de injustiça contra os pobres e as futuras gerações”.

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Ao declarar que o mundo enfrenta uma emergência climática, o pontífice confere novo ímpeto aos apelos de movimentos ativistas como o Extinction Rebellion, que exige que seus governos declarem estado de emergência climática.

Durante a reunião, o Papa fez seu primeiro apelo explícito de que se limite o aquecimento global a 1.5ºC, o limite a partir do qual as consequências das mudanças climáticas serão catastróficas. Ele citou um relatório recente da ONU, que indica que as emissões de gases de efeito estufa devem ser reduzidas em 50% nos próximos 11 anos, dizendo: “Esse relatório é um claro alerta de que os efeitos sobre o clima serão catastróficos se ultrapassarmos o limite de 1.5ºC estabelecido no Acordo de Paris. Além disso, o relatório também avisa que resta apenas uma década para chegarmos a essa contenção do aquecimento global”.

O Papa Francisco pediu que os CEOs e investidores de companhias de petróleo e gás façam uma “transição energética radical”, dizendo: “Em nossa reunião ano passado, expressei a preocupação de que a civilização precisa de energia, mas o uso da energia não deve destruir a civilização. Hoje, uma transição energética radical se faz necessária para salvar nossa casa comum”. A preocupação de que as companhias de petróleo e gás continue a conduzir negócios da mesma forma, apesar de alegarem o contrário, é evidenciada num discurso realizado no mês passado, em que o Papa disse: “Os investimentos em combustíveis fósseis continuam a aumentar, mesmo com os cientistas nos dizendo que estes devem permanecer no solo”.

O Papa Francisco também mencionou as mobilizações jovens que despertaram milhões de ativistas pelo clima. Em seu discurso, ele disse: “As gerações futuras vão herdar um mundo grandemente deteriorado. Nossos filhos e netos não têm de pagar o preço da irresponsabilidade de nossa geração. De fato, como se torna cada vez mais claro, os jovens exigem mudança”. Enquanto o pontífice discursava, estudantes do Fridays For Future de Roma, um grupo que faz parte do movimento de Greta Thunberg, protestavam no Vaticano, exigindo que os CEOs das companhias de petróleo “escutem o Papa”.

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A declaração do Papa Francisco pode ser lida na íntegra aqui.

Companhias de petróleo em Roma

Investidores e executivos de grandes companhias de petróleo viajaram até Roma para apresentar seus planos de implementação do Acordo de Paris àquele que representa 1,2 bilhão de católicos no mundo.

Como o Papa Francisco bem observou, essa reunião precede outra similar, ocorrida no ano passado, na qual disse aos CEOs: “o Acordo de Paris claramente pedia que os combustíveis fósseis fossem mantidos no solo… A civilização precisa de energia, mas o uso da energia não deve destruir a civilização!”

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Desde o encontro do ano passado, a ExxonMobil anunciou planos de aumentar a produção de combustíveis fósseis em 25% ao mesmo tempo em que alega tratar as mudanças climáticas “com segurança e responsabilidade”. A abordagem tomada pela ExxonMobil é uma indicação de tendências da indústria. Analistas respeitáveis do setor preveem que 1 milhão de quilômetros de novos poços de gás e petróleo serão perfurados nos próximos cinco anos. Os analistas comparam esse dado com a distância de “ida e volta à lua”.

Em contrapartida, novos movimentos que pedem ações contra as mudanças climáticas estão tomando o mundo. Paralisações globais pelo clima e atos públicos já mobilizaram milhões. Os governos estão cada vez mais responsivos, e a resposta mais recente foi uma legislação no Reino Unido visando a neutralidade em carbono até 2050.

A própria Igreja liderou uma séries de atividades audaciosas com o objetivo de acelerar a transição para uma economia baseada em formas limpas de energia. Quase 140 grupos católicos se comprometeram a desinvestir em combustíveis fósseis. Entre estes, a Cáritas Internationalis, uma agência de desenvolvimento associada ao Vaticano; diversas conferências episcopais, arquidioceses e dioceses; bancos católicos avaliados em mais de 7,5 bilhões de Euros; e muito mais. A nível comunitário, um novo movimento climático liderado por jovens católicos organizou centenas de paralisações pelo clima.

Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e antiga Enviada Especial da ONU contra as Mudanças Climáticas, também falou aos CEOs na reunião do Vaticano, dizendo: “O Santo Padre deixa claro que aqueles que mais merecem justiça climática são também os menos responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa: homens e mulheres que vivem em países menos desenvolvidos, incluindo pequenas ilhas cuja própria existência é ameaçada pelo aumento do nível do mar… O que poderia ser mais oportunista e hipócrita do que continuar explorando e extraindo as reservas de combustíveis fósseis do solo…?”

O Movimento Católico Global pelo Clima é uma rede composta por mais de 900 organizações membros e milhares de católicos que se dispuseram a agir para solucionar a crise climática.

Foto: Presidenciamx | Flickr