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Entenda como deve ser feita a adubação verde e a rotação de culturas

Associar adubação verde à adubação sistêmica é essencial para uma produção orgânica de qualidade.

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Um problema da agricultura brasileira atual é a ausência de nutrientes causada pelo excesso de agrotóxicos e fertilizantes utilizados em culturas anteriores. De acordo com o especialista em Agricultura Orgânica Thiago Tadeu Campos, assim como grande parte dos produtos químicos atuais, esses defensivos agrícolas geram uma melhora temporária no plantio e em seguida prejudicam as principais características do solo, como se esse estivesse sendo lavado. Nesse escoamento os minerais e nutrientes são levados do solo até os mananciais, que infelizmente perdem sua qualidade por receberem produtos químicos diretamente.

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Para evitar o empobrecimento do solo e a poluição ambiental, a técnica milenar de adubação verde vem sendo restabelecida em plantações orgânicas e convencionais. Essa técnica consiste em reequilibrar as propriedades do solo utilizando a rotação de culturas como principal artifício. Ao invés de utilizar uma quantidade exorbitante de produtos químicos, são associadas às plantações, leguminosas e gramíneas para melhorar e manter os nutrientes daquele local.

Para que o solo esteja preparado para o plantio, no entanto, é necessário fazer a adubação correta dele. Entenda como funciona cobertura verde:

O que é a rotação de culturas?

A adubação verde utiliza o tempo de descanso entre uma cultura e outra para se estabelecer com a utilização da planta de cobertura. Nesse período, quando o solo está fraco, é introduzida uma espécie específica de planta de cobertura para revitalizar a terra. Algumas semanas antes da próxima plantação, essa espécie é incorporada ao solo, depositando ali seus nutrientes, fazendo com que aquele espaço receba uma manutenção.

A adubação de cobertura é uma forma diferenciada de cuidar da terra, pois, invés de tratar as doenças e problemas que aparecem durante as fases das plantações, essa técnica cria uma barreira de proteção, evitando que as doenças se agravem e que as plantas cresçam com alguma deficiência de nutrientes. Trata-se de uma estratégia de preservação, e não apenas de reparação.

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Adubação verde x Reposição de nitrogênio

A principal utilização da adubação verde no Brasil, país tropical, é com o intuito de repor o nitrogênio do solo. Quanto mais nitrogênio houver para a planta absorver, maior será a biomassa vegetal formada. Como a variação térmica brasileira é muito grande, para cada região existe uma forma de adubação verde que poderá oferecer mais vantagens ao produtor, no entanto, apenas realizando a substituição de produtos químicos por cobertura verde já é possível observar as mudanças.

Foto: iStock by Getty Images
Foto: iStock by Getty Images

Rotação de culturas: As plantas de cobertura

Existem duas formas principais de adubação verde, as que envolvem o uso de plantas leguminosas e as que se utilizam da palhada das gramíneas. Cada uma oferece propriedades especificas ao solo, favorecendo-o de acordo com sua demanda.

Leguminosas

As leguminosas, por exemplo, são plantas como ervilhaca e feijão-de-porco. Ao serem incorporadas à terra, essas plantas aceleram o processo de mineralização do solo, além de aumentar a quantidade de nitrogênio disponível. Isso acontece por sua decomposição ser mais rápida que de outras plantas.

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Feijão-de-Porco (Canavalia ensiformes)

Essa planta consegue oferecer grandes quantidades de nitrogênio para o solo e ainda suportar uma grande variação térmica. Ela pode ser utilizada para o reparo de diversos tipos diferentes de solo. Além disso, garante uma boa cobertura verde, protegendo as sementes da intervenção UV.

Ervilhaca comum (Vicia sativa)

As bactérias ocasionadas pela presença da ervilhaca fazem com que o nitrogênio se fixe no solo. Porém, para proporcionar bons resultados, o solo deve estar sem problemas de acidez. Com um solo previamente corrigido, a ervilhaca irá proporcionar todo um reequilíbrio físico, químico e biológico do terreno.

Gramíneas

Já as gramíneas, como a aveia preta (citada no vídeo abaixo) e o milho, possuem uma decomposição mais lenta e oferecem uma cobertura residual mais estável. Esse conjunto de plantas possui a capacidade de reciclar todos os nutrientes do solo, além de reter a água que antes escorria e levava as propriedades embora. Em casos de excesso de nitrogênio no solo, o uso de gramíneas é ideal pois estabelece o equilíbrio dos nutrientes como um todo. Associar uma adubação verde com outra, ou até mesmo com uma adubação orgânica, torna a tarefa de manter uma alta qualidade do solo ainda mais fácil. 

Aveia preta (Avena stringosa)

No vídeo pode-se observar o uso da aveia preta como adubo verde, essa plantação é característica de canteiros que antecedem a plantação de milho e soja. Com a presença da aveia preta, a quantidade de inimigos naturais é reduzida, pois a própria planta possui efeitos defensivos que evita a presença de ervas daninhas e até mesmo pragas, como a lagarta do cartucho ou pulgão. Sua principal característica é proporcionar um rejuvenescimento da terra, aumentando seu rendimento.

Milheto (Pennisetum glaucum)

O milheto é uma boa opção para solos que estão com baixa fertilidade. Embora seja uma planta anual de verão, possui grande potencial de rebrote, isso significa que ele pode ser utilizado por um período mais longo. Devido ao seu valor nutritivo, esse adubo verde possui um alto potencial forrageiro.

Cuidados

É importante evitar a associação de adubações verde que sejam da mesma espécie da plantação econômica, uma vez que a presença de alguma praga ou doença pode devastar toda a plantação, não deixando nada disponível para o produtor. Também é importante ter em mente que, caso queira aproveitar as plantas da adubação verde, o valor proteico da planta será reduzido a cada corte.

Vantagens da adubação verde

Em plantios tradicionais, o gasto com fertilizantes será reduzido e a perda da cultura será menor, pois a planta não será atingida diretamente pelos raios UV e conseguirá manter um equilíbrio térmico, de umidade e pH, melhorando a capacidade produtiva dessa plantação.

A rotação de culturas é essencial para variar os nutrientes e reequilibrar as características do solo, mas introduzir uma nova plantação no período de descanso para depois incorporá-la a terra é uma forma de aproveitar o espaço ao mesmo tempo em que cuida do terreno.

As bactérias e fungos que ajudam o solo a se recompor são facilmente encontradas nesses grupos de plantas reparadoras. O processo de revitalização do solo, por mais eficaz que seja, quando feito de maneira artificial, não poderá obter a mesma qualidade, nem garantir uma estabilidade do solo após um longo período de uso.

Por que não basta fazer a adubação verde?

Associar adubação verde à adubação sistêmica é essencial para uma produção orgânica ou convencional de qualidade, pois ela irá equilibrar o solo para a planta ficar mais sadia e terão menos ataques de pragas e doenças. Além disso, manter a plantação livre de agrotóxicos e produtos químicos valoriza mais o produto.

Ao analisar o solo em que deseja realizar as próximas culturas, é possível identificar os nutrientes necessários e associar a adubação de cobertura à adubação sistêmica para garantir a reconstituição da terra e evitar a presença de novos produtos químicos que podem danificar e desperdiçar todo o tratamento já realizado.