- Publicidade -

Ao caminhar ou trafegar pelas vias mais arborizadas de São Paulo há uma grande chance de avistar ou passar ao lado de uma tipuana (Tipuana tipu), árvore de porte avantajado e com copa ampla e densa, a mais comum na cidade. Originária da Bolívia, ela começou a ser plantada, na cidade, na primeira metade do século 20. Além de prover sombra e uma série de outros benefícios ambientais, também pode revelar a evolução da poluição na cidade.

- Publicidade -

Estudo

Pesquisadores do Instituto de Biociências e da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em colaboração com colegas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), têm utilizado a tipuana como marcadora dos níveis de poluição da cidade por metais pesados e outros elementos químicos.

Ao analisar a composição química dos anéis de crescimento (círculos concêntricos na parte interna do tronco) e as cascas, os pesquisadores constataram redução na poluição por cádmio, cobre, níquel e chumbo na zona oeste de São Paulo nos últimos 30 anos.

“A diminuição dos níveis de chumbo pode ser atribuída à eliminação gradual desse elemento químico na composição da gasolina, enquanto a tendência decrescente da poluição por cádmio, cobre e níquel provavelmente está relacionada ao aumento da eficiência dos veículos e à desindustrialização de São Paulo”, afirma Marcos Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da USP e um dos autores do estudo.

Menos metais

O chumbo tetraetila era usado na composição da gasolina comum como aditivo com o intuito de melhorar o desempenho do motor dos automóveis abastecidos com o combustível e reduzir seu desgaste.

- Publicidade -

A utilização do composto liberava chumbo na fumaça do escapamento dos veículos – o que gerava diversos efeitos danosos à saúde e fez com que o Brasil proibisse o chumbo tetraetila de ser adicionado à gasolina nos veículos terrestres no país a partir de 1988.

Já as maiores fontes de cádmio são a indústria eletroeletrônica, além de pigmentos de esmaltes, tintas têxteis, baterias, fotografia, litografia e pirotecnia, fabricação de plásticos, de semicondutores, células solares, queima de combustível, lixo urbano, tratamento da borracha e galvanoplastia. Por sua vez, o cobre tem como principais fontes de emissão as queimas de resíduos urbanos e industriais, fundições de ligas metálicas e pesticidas.

“Como São Paulo tem passado por período de desindustrialização há algumas décadas, diminuiu a emissão desses elementos químicos. Com isso ocorreu uma redução na concentração desses metais em São Paulo”, afirma Giuliano Maselli Locosselli, pós-doutorando no IB-USP e primeiro autor do estudo.

- Publicidade -

Analisando os anéis e as cascas

A tipuana é uma das árvores que mais caem em São Paulo e por isso começou a ser substituída por espécies nativas. Mas, entre três espécies mais comuns na capital, ela se mostrou a melhor para a pesquisa. Ela absorve pelas raízes elementos químicos, como metais pesados, presentes na atmosfera e carreados para o solo pela água das chuvas. Esses compostos são transportados junto com a seiva pelos vasos da planta e ficam armazenados em sua madeira, nos anéis de crescimento, à medida que ela cresce.

Cada um desse anéis representa um ano de vida da planta, sendo os maiores os mais recentes e os menores (mais internos) os mais antigos. Pode-se medir a concentração de metais pesados no solo de um determinado ambiente no ano em que o anel foi formado. E, ao comparar as concentrações dos anéis, avaliar como a presença desses elementos químicos variou em uma escala de décadas. “Se uma árvore tem 50 anos, por exemplo, ela contará a história da poluição na cidade nesse período”, afirma Locosselli.

Já as cascas da tipuana permitem avaliar a concentração de elementos químicos presentes na atmosfera e que se depositaram passivamente nessa parte externa do tronco da árvore. Consegue-se, por exemplo, avaliar a variação espacial desses elementos químicos na atmosfera da cidade em escala de anos.

“Como a casca é uma parte mais simples de se obter da planta do que os anéis de crescimento anual e o custo das análises químicas delas também é menor, é possível analisar as cascas de diversas árvores e cobrir uma grande área. Isso permite ver como a poluição por metais pesados e outros elementos químicos se distribui por toda a cidade”, afirma Locosselli.

Foto: Mauro Guanandi/Flickr