Infância: a importância de valorizar os processos
As gerações mais novas não imaginam como as coisas são realmente feitas.
As gerações mais novas não imaginam como as coisas são realmente feitas.
Por Ana Lúcia Machado, do blog Educando Tudo Muda
Hoje em dia entregamos a feitura de quase tudo para as máquinas, desde a comida, até a roupa, incluindo brinquedo e muitos outros artigos. As gerações mais novas não imaginam como as coisas são realmente feitas, e com isso hoje ninguém mais vivencia os processos da feitura das coisas.
Tudo vem pronto. Na alimentação não descascamos mais nada, desembrulhamos tudo, apenas temos o trabalho de tirar das embalagens e das caixinhas aquilo que consumimos. No vestuário, com a proliferação das roupas produzidas em escala, em países como a China, basta olhar as centenas de vitrines dos shoppings centers, em seguida apontar a roupa para a atendente de uma loja de departamento, sacar o cartão de crédito e horas depois ir para a festa de roupa nova. Assim nos distanciamos dos processos em todas as dimensões da vida.
A sociedade atual “beneficiada” cada vez mais pelos avanços tecnológicos, esqueceu-se de algo tão salutar para o desenvolvimento humano: a importância dos processos. O pensamento e o sentimento estão contidos nos processos do fazer. O pensamento entra em ação, o sentimento desperta, e tudo se encaixa num trabalho conjunto que vai aos poucos sofrendo pequenas transformações. Numa sequência de etapas, acontece a preparação até chegar à prontidão. Os processos possuem um sentido educativo e terapêutico também. Neles há mistério, magia e encantamento.
O processo é tão importante quanto o resultado final. No decorrer dele vamos ganhando confiança, nos tornando mais seguros, com a superação de medos e angústias. Amadurecemos ideias e sentimentos. É durante o processo que experimentamos, acrescentamos, lapidamos, cortamos arestas e mudanças vão acontecendo.
É importante que a criança vivencie os processos para perceber que nada chega pronto. E COMO FAZER ISSO? Aqui vão algumas dicas:
– Insira a criança na rotina das tarefas do dia a dia, permitindo a participação no preparo das coisas. A cozinha é um ambiente rico de vivências de processos, com o preparo das refeições e lanches. É importante chamar a criança para fazer junto, delegar pequenas coisas que ela possa fazer sozinha, como misturar os ingredientes de um bolo, peneirar farinha, etc…
– O cuidado com o jardim é outra atividade cheia de sentido para a criança, que ficará alegre ao plantar e acompanhar o germinar de uma semente, regá-la, e observar seu crescimento. O jardim é o lugar perfeito para o importante aprendizado do ciclo da vida – nascimento, vida e morte.
– Algumas brincadeiras também podem propiciar a vivência de processos, como atividade com argila. Após o manuseio da massa e de dar a forma desejada a ela, é preciso esperar que seque e em alguns casos é necessário levar ao forno, para só então poder pintá-la.
Precisamos reaprender a esperar o tempo de amadurecimento das coisas. Nossa sociedade imediatista, na ânsia da realização instantânea dos seus desejos, suprimiu até mesmo a fase de sedução entre os amantes, onde a visão despertava o desejo, que tomava conta do sentimento e sequências estimuladoras de hormônios eram desencadeadas, até que, tanto o corpo feminino dava sinais que estava pronto para o enlace amoroso, como o corpo masculino também aos poucos, percorrendo seu caminho, culminava na prontidão. Hoje basta uma pílula para garantir subitamente o prazer.
Do fast food ao Viagra, os processos de vida foram deixados para trás, bem como a beleza das paisagens do trajeto até o destino final. Paisagens que alegravam e nutriam a alma, não existem mais. Economizamos no tempo da viagem, com certeza, todavia empobrecemos o percurso. Vale a pena refletir sobre o que ganhamos e perdemos com isso. E se quiser conhecer a história do vestido confeccionado por minha mãe para a festa dos meus 15 anos, acesse aqui.