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Criação de parque suspenso no Minhocão divide opiniões

A transformação do viaduto em parque pode ser parcial ou integral, mas a medida é tema de debate entre especialistas.

Músicas, danças, festa junina, teatro na janela, piquenique, crianças e adultos convivendo no mesmo espaço. Tudo isso acontece a céu aberto quando os coletivos paulistanos se organizam no “Minhocão”. A região central de São Paulo que é palco desses encontros pode agora ganhar um espaço público de lazer permanente com a criação de um parque suspenso.

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Restringir o uso do transporte individual no elevado Costa e Silva, localizado no centro da cidade, até que ele seja demolido ou transformado em parque é um das premissas contempladas no Plano Diretor Estratégico (PDE), lançado no último mês. A via expressa, conhecida como Minhocão, possui 2,8 km de extensão, ligando a Praça Roosevelt ao Largo Padre Péricles e é, majoritariamente, usada por carros durante a semana e fechada para lazer aos domingos e feriados.

De acordo com o artigo 375º do PDE, a transformação do viaduto em parque pode ser parcial ou integral. Mas, antes mesmo do Plano Diretor ser aprovado na Câmara e sancionado pelo prefeito Fernando Haddad, já circulava desde o início do ano o projeto que decreta a criação do Parque Municipal Minhocão.


Foto: Mark Hillary/Flickr

O projeto de lei Nº 01-00010/2014 justifica que cabe ao Poder Público apoiar de forma efetiva as ações que já são realizadas pela comunidade. O especialista em planejamento urbano e regional da Unesp Bauru, José de Sampaio Alves, concorda. “O Minhocão sempre foi uma obra polêmica e questionada por muitas solicitações da população de seu entorno de que ele acabou por trazer uma desvalorização não só imobiliária como também trouxe vários problemas ambientais”.

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Já para a arquiteta Luana Geiger é preciso estudar melhor as possibilidades disponíveis. “Em princípio a medida é benéfica para os moradores que durante seis dias por semana não conseguem abrir suas janelas por conta do ruído dos carros, mas esse será apenas o impacto imediato dessa nova legislação. Logo teremos o encarecimento dos preços dos imóveis e a consequente gentrificação da área, ou seja, os mesmos moradores beneficiados talvez não desfrutem da medida a médio e longo prazo, pois terão aos poucos se mudado da região para áreas mais baratas ou degradadas da cidade”.


Igor Schutz/Flickr

Demolir ou transformar em parque? Essa é a grande discussão que circula na internet na última semana. Um artigo do pesquisador Thiago Carrapatoso no Brasil Post, por exemplo, listou cinco razões pelas quais defende a demolição. Foi criado inclusive um grupo no Facebook aos desfavoráveis à criação do parque. 

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A questão simbólica da construção é um dos pontos questionados. O Elevado Costa e Silva foi criado por Paulo Maluf e leva um nome que homenageia o militar que esteve no comando do país no período mais repressivo da ditadura, tendo instaurado o decreto federal que deu fim a todos os direitos civis e fechou o Congresso Nacional, conhecido como AI-5.


Cinema no elevado instalado pelo coletivo Baixo Centro. Foto: Festival Baixo Centro


Atividades lúdicas com crianças e adultos. Foto: Festival Baixo Centro

Já do ponto de vista social, a demolição pode ser mais prejudicial aos moradores de rua, que se veriam obrigados a migrarem.  “Talvez tenha um impacto maior na vida da população urbana nômade do que a construção de um parque que mantém a estrutura intacta. No entanto, o parque não é destinado a esse público, bem como não foi a minha intervenção efêmera Piscina no Minhocão que tinha um cunho poético”, afirma Luana.

Para a arquiteta, é preciso “desenhar uma cidade com mais espaços públicos já que os espaços de convivência em São Paulo são sempre privados”. Do jeito que a cidade está hoje, acredita, qualquer quer seja a escolha já pode ser considerada um ganho “por mais equivocada que seja a proposta ou pouco estudada do ponto de vista urbanístico”.


Teatro “Esparrama” se apresentando aos domingos no Minhocão

“O projeto atende a reivindicação histórica, participativa e popular quando pretende que o Minhocão tenha usos mais adequados a uma cidade que se pensa mais saudável, sustentável e que melhore o ambiente para aquelas pessoas”, defende o especialista em planejamento urbano. “Ideias poderiam aparecer caso a estrutura seja mantida, como por exemplo a criação de ciclovias, trólebus ou bondes, o que manteria sua função de circulação, mas privilegiaria a locomoção coletiva e não individual como é hoje com o automóvel”, sugere Luana.


Imagem: Associação Parque Minhocão

É nesse ponto que surge, como terceira opção, a desativação e criação de um parque parcial, uma vez que há pontos em que a derrubada da estrutura causaria muitos transtornos, como é o caso do trecho em que a cobertura integra o Terminal Amaral Gurgel. Ainda não há prazo para ser definido o destino do Minhocão.


Foto: Festival Baixo Centro

Marcia Sousa – Redação CicloVivo