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Cientistas identificam fungo fatal para anfíbios na Mata Atlântica

A doença tem sido apontada como a principal causa para o declínio das espécies.

Uma doença infecciosa e letal tem sido apontada como uma das principais causas do declínio mundial e da perda de espécies de anfíbios – os animais mais ameaçados de extinção no planeta.

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Trata-se da quitridiomicose – doença que infecta células com queratina da epiderme de anfíbios adultos, causando desequilíbrio nas trocas gasosa, de água e de eletrólitos pela pele desses animais e levando-os à morte por parada cardíaca. Em girinos, o fungo degrada a queratina dos dentículos, dificultando a alimentação e prejudicando o crescimento.

“Ao permanecer mais tempo como girinos e metamorfosear com tamanhos menores, esses animais têm mais chances de serem predados na natureza, o que pode provocar o declínio dessa população”, disse Luís Felipe Toledo, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), à Agência FAPESP.

Um estudo coordenado por ele e realizado por um consórcio de pesquisadores de universidades e instituições de pesquisa do Brasil e dos Estados Unidos revelou que o fungo causador da doença – o Batrachochytrium dendrobatidis (Bd) – está amplamente disseminado pela Mata Atlântica e já se encontra presente em outros biomas brasileiros, como a Amazônia e o Cerrado.

Além disso, o Brasil tem uma linhagem nativa e outra híbrida do fungo, provavelmente mais virulenta do que a pandêmica em circulação pelo mundo, apontou o estudo.

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“Constatamos que o Batrachochytrium dendrobatidis [Bd] não está mais restrito à Mata Atlântica e há pelo menos duas linhagens do fungo exclusivas no Brasil”, disse Toledo.

De acordo com o pesquisador, já se sabia, desde o começo dos anos 2000, da presença do fungo Bd na Mata Atlântica – bioma com a maior diversidade de anfíbios do país e onde esses animais sofrem os maiores riscos de extinção em razão de fatores como a destruição de habitats e a introdução de espécies invasoras.

Com o projeto apoiado pela FAPESP, realizado com o intuito de aumentar o conhecimento sobre a ecologia e a evolução da quitridiomicose nas Américas – onde os surtos da doença têm sido mais devastadores –, os pesquisadores identificaram que o fungo Bd está presente em uma ampla variedade de habitats e regiões da Mata Atlântica.

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Até o início do projeto, o fungo havia sido detectado em cerca de 110 espécies de anuros (sapos) em vários habitats, principalmente nas porções sul e sudeste da Mata Atlântica, e em duas espécies de anuros do Cerrado – dois biomas com o maior número de espécies de anfíbios ameaçados de extinção no mundo.

Em um artigo já aceito para publicação na revista Diseases of Aquatic Organisms, os pesquisadores relatam que identificaram espécies de anuros infectados pelo fungo capturados na natureza também na região norte da Mata Atlântica, nos Estados da Bahia, Pernambuco e Minas Gerais.

Em outro artigo aceito para publicação na revista North-Western Journal of Zoology, eles também descrevem ter identificado exemplares de espécies de sapos da Mata Atlântica ameaçadas de extinção infectadas pelo fungo. Com isso, o número de espécies de anuros infectados por Bd na Mata Atlântica saltou para 128.

“Os resultados do nosso estudo indicam que o fungo Batrachochytrium dendrobatidis está presente em toda a Mata Atlântica e que atua como um agente patogênico generalista no bioma, infectando famílias de anuros com maior diversidade de espécies”, afirmou Toledo.

No artigo, os pesquisadores também relatam o primeiro registro de uma espécie de anuro capturado na natureza infectado pelo fungo na Amazônia, no Estado do Pará.

Até então, o único registro de anfíbio infectado na Amazônia era o de girinos de rã-touro (Lithobates catesbeianus) obtidos em um ranário comercial, disse Toledo.

“Estimamos que a presença do fungo Batrachochytrium dendrobatidis na Amazônia seja recente e menos abundante do que na Mata Atlântica”, afirmou o pesquisador. “Na Mata Atlântica, aproximadamente 40% dos anfíbios têm o fungo, enquanto na Amazônia a prevalência parece ser menor”, comparou.

Leia a reportagem completa aqui.

Por Elton Alisson – Agência Fapesp