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Lixo Vip: Para onde vão os resíduos gerados em um camarote do carnaval?

Saiba um pouco do árduo trabalho que é gerir os resíduos de um dos principais camarotes da capital paulista.

4.710 kg de metal, plástico, papel e papelão. Esse foi o total de materiais recolhidos em apenas um camarote durante os três dias de carnaval em São Paulo. Agora, imagine tudo isso sendo descartado irregularmente, despejado em algum aterro sanitário. Para os organizadores do Camarote Bar Brahma esta não é uma possibilidade há pelo menos seis anos, quando o espaço iniciou parceria com o Instituto de Compromisso com o Desenvolvimento Humano (ICDH) e a Eccaplan Consultoria em Sustentabilidade.

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“Desde sempre nos preocupamos com o impacto ambiental da festa, apesar de não ser fácil ter controle total sobre essa questão, pois se trata também da gestão de fornecedores e terceiros, em um mercado pouco habituado com tais práticas”, afirma Caire Aoás, Diretor do Camarote Bar Brahma. Por outro lado, é também um mar de oportunidades para empresas que atuam no setor. E o que não faltam são pessoas dispostas a pensar em soluções. Em entrevista ao CicloVivo, Caroline Kulessa, Analista Ambiental na Eccaplan contou um pouco do árduo trabalho que é gerir os resíduos de um dos principais camarotes da capital paulista.

Onde tudo começa

Caroline explica que o processo de triagem já começa dentro do próprio camarote. O processo é possível graças a uma parceria com a cooperativa Nova Conquista. “Os cooperados recebem todos os resíduos gerados durante a montagem, realização e desmontagem do Camarote. Esses resíduos são triados e separados em diversos big bags conforme a sua tipologia (plástico, papelão, metais, etc)”. Desta forma, a Eccaplan consegue recolher os materiais e já encaminhar para compradores ou para indústrias que os utilizam como matéria-prima.

Parece simples, mas é extremamente importante, principalmente, se analisarmos como o país lida com essa questão. Para se ter uma ideia, em 2016, o Brasil gerou 78,3 milhões de toneladas de lixo urbano. Segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Desse total, as cidades coletaram 91%, mas 40% deles foram depois enviados para aterros e lixões. Ou seja, quase a metade deve um destino inadequado para a saúde humana e ambiental.

“O ICDH, em parceria com o Camarote e a Eccaplan, colocou em ação os três pilares da sustentabilidade para diminuir o impacto ambiental, gerar fonte de renda e promover a inclusão social. Nossa missão é sempre unir oportunidades e somar forças em prol do desenvolvimento humano”, afirma Denise Marconi, Diretora do ICDH. O trabalho de gestão realizado durante os três dias de folia é o que se espera, e nem sempre se alcança, de qualquer projeto que se intitule sustentável.

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“A primeira coisa é vontade de verdade, e doação de tempo e time para olhar para o assunto”

 Menos resíduos, por favor

Dos 4.710 Kg de materiais recolhidos no Camarote Bar Brahma, foram 320 kg de metal, 1.360 kg de plástico, 1.670 kg de papelão e 1.360 kg de papel. O número total é mais do que o dobro coletado em 2017.

Não é preciso entender muito de reciclagem para saber que as latinhas são os materiais mais desejados pelos catadores. Isso porque os metais têm maior valor agregado. Inclusive, a lata de alumínio é a embalagem mais reciclada do mundo. Mas, em todos os cenários a melhor opção é sempre reduzir a geração de resíduos.

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Por meio da campanha Sou Resíduo Zero, a Eccaplan busca engajar pessoas e empresas a planejar e gerenciar seus resíduos e, segundo Caroline, o foco do trabalho é a não geração deles. “O ideal é sempre planejar os eventos focando na ‘não geração’ de materiais, por exemplo, ao incentivar o uso de copos retornáveis. E caso a sua geração seja inevitável, optar por materiais que consigam ser reciclados”, recomenda.

Mas, uma vez que foi gerado, reaproveitá-lo antes de qualquer processo é a melhor opção. “Ao invés dos resíduos serem enterrados ou queimados, o objetivo é que eles sejam reinseridos na cadeia produtiva, gerando valor econômico, social e ambiental através da reciclagem, reutilização e compostagem”, diz ela. “E como no caso do Camarote, a Eccaplan busca parcerias com cooperativas de catadores gerando novos empregos e retorno de capital para eles. Fora de eventos, as cooperativas também apresentam papel fundamental na reciclagem dos materiais das grandes cidades. Eles são responsáveis pela triagem e destinação da maior parte desses materiais”, ressalta.

Desafios e oportunidades

A questão do resíduo zero ainda é um campo de desafio para os realizadores de grandes eventos. E isso não seria diferente para Caire Aoás, o “cara” que faz o camarote da Brahma ser um dos mais badalados entre os foliões. “Estamos engatinhando, mas é satisfatório ver os números que estamos conseguindo atingir e saber que estamos contribuindo não só para um mundo mais divertido, mas também mais consciente e responsável”, afirma.

Para ele, um pouquinho mais de empenho dos organizadores, já estimula a mudança. “A primeira coisa é vontade de verdade, e doação de tempo e time para olhar para o assunto. Se virar objetivo, acontece, assim como as ótimas experiências que os eventos proporcionam…a cadeia de fornecedores se adaptará naturalmente”, conclui.

“É importante que as organizações percebam que a redução da geração de resíduos e sua destinação à reciclagem pode gerar redução de custo ou renda extra para seu evento. E isso pode ser feito através de ações simples como ações de engajamento do público, melhor planejamento da escolha de materiais comprados e uma gestão de resíduos durante todo o evento. Ao final, além de redução de custos, é possível deixar um legado positivo para a sociedade e o ambiente”, acredita a Analista Ambiental.

Foto: Claudia Prisco